Crônicas

Crônicas

  • as vezes quero quebrar tudo
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    Às vezes Apenas Quero Quebrar Tudo

    Vocês já sentiram tanta raiva das coisas da vida, como um vento traiçoeiro que surge para puxar suas roupas para longe? Tem dias que sinto que o mundo cairá, que o mundo vai se craquelar nos mais diversos fragmentos das maiores e menores das minhas inseguranças. Me sinto cansado do que faço, com receio constante de nunca me achar bom o bastante. Olho minuto a minuto para algo que não pode ser concluído, com uma ânsia de preencher este vazio com outra tarefa que me pareça de certa forma prazerosa, ou ao menos, que me afaste da possibilidade de qualquer cobrança. Quem é que cobra? Não há aquele entregar de…

  • desaprendi os bons tempos
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    Desaprendi Os Bons Tempos

    Chego em tenra idade, onde desaprendo tudo aquilo que me foi moldado nos últimos tempos. Aqueles bons tempos. Nada em vão passou, mas existe um certo receio em não sentir a mesma emoção de outros tempos que hoje confesso nem mais conseguir mensurar em pensamentos. Desaprendi a viver, não me agrada mais a breve ilusão de criar vínculos duradouros, sinto que as atitudes e aquilo que falo não causa nenhum impacto no outro. Ignoram as palavras, como se tivesse pronunciado em outro idioma, talvez em código binário, que só máquinas podem processar. Digo algo ofensivo? Falo coisas das quais não deveria? Está no silêncio do outro a mesma repulsa que…

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    Não era apenas um café

    Em casa, mesmo que fosse a casa do meu avô, a hora do almoço costumava ser ritualística, quase religiosa. A empregada e nossa avó passavam horas na cozinha, em meio a cheiros e sabores, gritando e atravessando de um lado a outro com as imensas bacias de frango temperado, salada ou macarrão gelado com presunto de lata. Os pratos sempre variavam, mas não era como se nossa avó fosse uma boa cozinheira. Na verdade, ela cozinhava bem o que era prático; coisas muito mirabolantes para ela sempre custavam caro. Nosso avô estava em movimento; não saberia dizer ao certo, mas podia até estar parado assistindo TV, porém sua voz reverberava…

  • verao fugaz
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    Verão fugaz

    Já era o início do novo milênio, um ou dois anos após as pessoas ficarem assustadas com o fim do mundo, mas os anos e meses passaram, e voltamos às nossas rotinas. Na época, eu era um pré-adolescente tímido e cheio de manias. Naquele tempo, não imaginava o que era ter amigos, já que, para mim, sempre foram escassas as pessoas que podia chamar assim. Todo verão, me despedia nas últimas aulas dos colegas, aqueles que mais se pareciam com amigos, vinham até em casa, chamavam para aniversários e sempre estavam ao meu lado. Nessas férias, eu me afastava, não por querer, mas eles iam viajar, passar o final de…

  • o tropeço
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    O tropeço

    Prometi a mim mesmo que seria cuidadoso. Parei em frente à praça após comprar água boricada e um kit de band-aids, enquanto meu companheiro estava ao meu lado, observando-me tratar a ferida da forma mais minuciosa possível. Havia caído, ou melhor, deslizado sobre aquele amontoado úmido de folhas e flores mortas que estava estagnado ali há tanto tempo. O vermelho das pétalas se misturava com o vermelho do sangue do meu joelho, que, em uma inútil tentativa de me fazer parar de deslizar, protegeu de alguma forma para que eu caísse levemente e não de cara no chão, ou até mesmo de costas. Era um dia decisivo para mim, pois…

  • memorias jei
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    Como a Memória, a Água e o Jeito

    Em algum momento da vida, uma frase cria peso, dimensão e se expande até, por fim, tomar forma e criar raízes, pequenos filetes que, por sua vez, fincam-se na carne e tendem a sair com muita dificuldade. Assim são as memórias, amarradas em algum espaço imaginário da mente, esperando momentos inoportunos ou até convenientes para se manifestarem como uma explosão de cores, sons e cheiros. Memórias são nada mais que lembranças de sensações perdidas em espaço e tempo. Por isso, as datas são quase insignificantes se não estiverem registradas, mas as palavras, seus mínimos significados e tudo aquilo que se sucede, estão vivos e presentes, prontos para seguirem como pequenos…

  • dominik scythe lUGWwDAWpEk unsplash
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    A viagem e o não existir

    Meu caso com viagens de avião sempre foi uma relação de medo e pavor absoluto. Pensar em pisar na escada, sentar na cadeira apertada e ficar ali confinado eram motivos de pânico imediato. É engraçado pensar que caiu um avião no ano em que nasci. Devo ter absorvido o pânico dos meus pais, mas também tem culpa os filmes, séries e tudo mais que abordam o tema com a maior naturalidade. A imagem ao lado representa meu estado de total flutuação, pois passei meses, semanas ou dias sem saber o que esperar, apenas pensando. Vou viajar com meu amor; a decisão foi tomada, aceitei e agora? Pois bem, meu corpo…

  • jake hills bt Sc22W BE unsplash
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    O Primeiro Passo na Escrita

    O meu primeiro passo na escrita deve ter começado ainda na infância, quando pegava os bonecos dos mais variados personagens e criava um mundo só deles, com seus passados e conflitos. Meus primos tinham quase dez anos a mais, logo quando se cansavam dos brinquedos, me davam para liberar espaço em seus quartos. Tive Thundercats, GI Joe e outros que nem sei o nome. Mesmo usados e velhos, ainda faziam minha alegria e minhas histórias. Claro que muito da vontade de escrever surgiu também quando comecei a ler Aventuras Fantásticas (Fighting Fantasy, no original). Peguei emprestado sem querer na biblioteca da escola, animado mais pela capa que pelo conteúdo e…