as vezes quero quebrar tudo
Crônicas

Às vezes Apenas Quero Quebrar Tudo

Vocês já sentiram tanta raiva das coisas da vida, como um vento traiçoeiro que surge para puxar suas roupas para longe?

Tem dias que sinto que o mundo cairá, que o mundo vai se craquelar nos mais diversos fragmentos das maiores e menores das minhas inseguranças.

Me sinto cansado do que faço, com receio constante de nunca me achar bom o bastante. Olho minuto a minuto para algo que não pode ser concluído, com uma ânsia de preencher este vazio com outra tarefa que me pareça de certa forma prazerosa, ou ao menos, que me afaste da possibilidade de qualquer cobrança.

Quem é que cobra? Não há aquele entregar de boletos na porta e nem um servidor do governo que deseje usurpar das minhas minguadas finanças. Quem dera. Este sou eu parado no canto, cantando “Losing my Religion” no megafone, na expectativa de que meus gritos abafem os outros gritos da sala que é minha mente.

Voltando para a raiva, a angústia desta hóstia que engulo, que é nada mais do que o parasita mercadológico que me dita que devo sempre obedecer, ser resiliente e nunca questionar. Seria então esse aspecto um novo tipo de tortura? Um tipo de escravidão compulsória da qual o mercado me obriga para que assim possa sobreviver?

Onde está o poder de contestar, quando, na verdade o maior medo do mercado é que eu não me cale? Que eu abaixe a cabeça e aceite da minha mais-valia o seu único aspecto intrínseco. Devo vender meu corpo e alma para que a carne do dinheiro prevaleça?

Porém, sou inseguro, de forma que sempre estarei me questionando quando de fato escutarei que sou bom o bastante. Que posso, na minha mediocridade mercadológica, ter certa parcela de importância. De escutar que o que há de bom não precisa ser o bom do profeta do mercado, mas sim daquilo que de fato me faz feliz e não depende do outro.

Eu não acredito que culpar o outro é errado, quando este outro é um rato que usa do seu poder de fala para construir uma narrativa e mostrar trabalho para ganhar fama. Afinal, a traição é sua verdadeira chama.

Vá, diga que, na verdade a culpa é minha, que deveria fazer o meu melhor, mudar a porcaria do mindset, como se pudesse dar um reset. Afinal, devo ser uma máquina com consciência, ou apenas com inteligência artificial?

É fácil acreditar que você tenha que mudar, quando, na verdade é o outro que te afeta. Não dá para negar que alguém possa te afetar, não olhar para ver o que te faz mal e está bem em sua frente. Errado, olhe para o espelho, culpe a você mesmo e deixe que o outro faça seus atos; ele também precisa mudar de mindset.

Poderia listar mil livros de autoajuda e ilustrar outros mil com páginas injustas. A lavagem cerebral é o que vou mais temer, não apenas por sentir medo ao me entregar a ela, mas pela mera consciência de que nesta vida, tudo está perdido quando não se quer mais olhar a verdade.

Deixarei o bilhete para mim mesmo, que na próxima vez que o surto vier, lembre que em meio a todo o caos, talvez eu ainda possa encontrar meios de perceber o que me faz mal e assim, afastar para não me tornar mais um autômato na multidão.

Raphael T. A. Santos é apaixonado por SciFY e literatura, tendo estado presente nas primeiras edições das antologias do Grupo Editorial Andross, com 6 contos, possuindo também uma publicação na antologia Rupturas, produzido no âmbito do Curso de Introdução à Escrita Criativa, coordenado pelo autor Tiago Novaes e, de forma independente, o conto de terror cósmico, Umidade, e atualmente escreve suas crônicas, tópicos de escrita criativa, carreira literária e marketing no site Escrita Selvagem. Publicou o seu primeiro livro de romance, Mãe de Sal, em 2021. Frágil como Origami é o seu segundo livro.

Um comentário

  • Bruno

    acho que foi essa semana, cheguei a uma conclusão parecida, entre um dialogo que me pedia para surtar, e um outro que me levava de volta ao controle, que me mostrava de onde vinha todo a vontade de “chutar o pau da barraca”

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