leitores sensiveis quem sao e principais funcoes
Carreira Literária

Leitores Sensíveis: quem são e principais funções

Leitores sensíveis são aqueles que revisam manuscritos não publicados com o propósito de detectar imprecisões culturais, passagens preconceituosas, estereótipos forçados, questões de representatividade e linguagem possivelmente problemática.

Embora esses profissionais não sejam novos no meio literário, para nós autores, a discussão sobre o uso dos leitores sensíveis pode esconder do que o trabalho deles realmente é feito. Não somente, mas esse artigo vai desmitificar e explicar quem são esses leitores, o que você deve esperar do seu trabalho e o quão podem ser importantes para seu livro.

Qual é a problemática dos leitores de sensíveis?

Esses leitores se tornaram tópico nas redes de conversas, pois para muitos, a ideia de uma leitura sensível parece similar à censura. Por outro lado, isso não quer dizer que torna a literatura “politicamente correta”, ninguém é obrigado a contratar um leitor sensível, muito menos a seguir as sugestões oferecidas.

De toda forma, você já deve ter pego muitos livros estrangeiros que representam o Brasil de formas peculiares e preconceituosas. Em suma, um leitor sensível percebe esses estereótipos e sugere alterações ao autor, para que assim não ofenda nós brasileiros.

Agora, ficou um pouco mais fácil entender, não?

O caso contra leitores sensíveis

A censura geralmente está no centro dos argumentos contra esses leitores. Se você têm esse ponto de vista, está preocupado com o fato desses leitores policiarem o seu pensamento, resultando em enredos homogêneas que têm medo de tocar em tópicos complexos.

Muitos argumentam que a crescente necessidade desses leitores desencoraja autores de experimentar e escrever fora de suas próprias perspectivas. Entretanto, a liberdade de pensamentos, seria a antítese do que significa a alma da escrita criativa.

Fique calmo querido autor, seu livro não será censurado e nunca publicado. Entretanto, se você estiver escrevendo algo que viole leis específicas, por achar que é, “minha opinião”, sinto te dizer que o mundo literário não é para você.

A função dos leitores sensíveis

Devemos concordar que as obras literárias tem um problema com diversidade. Nos últimos anos, ocorreu uma maré de mudanças, à medida que a inclusão e equidade tornaram-se cada vez mais buscadas para representar a variedade de culturas e origens que constituem não apenas o nosso Brasil, mas o mundo todo.

No entanto, estamos longe de termos muitas obras que levem essas vivências realmente ao papel. Além disso, as habilidades desses leitores trazem mais ajuda do que problemas, veja:

  • Garante melhor representação no enredo. Com a ascensão da diversidade na literatura, personagens precisam ser representados com precisão e sem transmitir estereótipos. Em suma, esse leitor te ajuda a apontar descrições incorretas sobre raça, sexualidade, religião e deficiências físicas.
  • Melhora a qualidade do livro. Todos se beneficiam de um enredo com personagens multidimensionais, ricos em detalhes e nuances. Em resumo, seus feedbacks vão tornar seus personagens vivos e não recortes de jornal.

Agora, no ambiente das redes sociais, esse tipo de leitor coopera para prevenir do pior cenário possível. Que são, reações adversas e no encerramento da publicação de um livro.

Pode parecer radical, mas imagine que Monteiro Lobato é hoje visto como um autor racista e há provas incontestáveis em toda sua obra. Por sua vez, graças a evolução mental da humanidade, essas grotescas representações estão fadadas ao esquecimento.

O que você pode esperar de um leitor sensível?

Com todo o debate em torno do tópico, o que realmente entra no trabalho do leitor? Bem, vamos conversar sobre a colaboração entre o leitor e o autor.

1. Encontrar o leitor certo para o livro

O leitor deve atender às necessidade do livro. Por exemplo, se você é um autor branco e que representar um protagonista indígena, o ideal é que seu leitor tenha vivência e entenda as nuances, perspectivas e cultura do seu personagem. Da mesma forma, este leitor precisa ter experiência no gênero que você escreve, se não, poderá não dar dicas tão assertivas.

Agora, algumas práticas recomendadas quando contratar esse tipo de leitor:

  • Espere pagar pelos seus serviços.  Os preços podem variar, sendo que alguns cobram por hora e outros por páginas. Portanto, certifique de colocar tudo especificado em contrato e que ambos estejam cientes dos prazos e deveres de cada parte.
  • Tenha um leitor que entenda de literatura. Não significa que sejam escritores, mas você pode encontrar leitores que são pesquisadores ou jornalistas, que normalmente tem uma maior afinidade com a escrita, mas também é importante que conheçam do mercado literário.
  • Defina um prazo. Defina com o leitor o tempo de entrega do feedback, como ele não faz o papel de revisor, a leitura costuma ser em pelo menos um mês.

2. Dê tempo ao leitor para ler com atenção

Agora, com o contrato resolvido e todos os detalhes alinhados, o autor precisa permitir que o leitor faça a leitura por inteiro do seu manuscrito. Entenda, essa pessoa estará lendo com atenção e cuidado, anotando e dando feedbacks em toda sua obra, por isso, não fique gerando cobranças.

3. Entenda o feedback

Á princípio, o recebimento do retorno gera uma reação de estranhamento e até de falta de sensibilidade do próprio autor. Na maior parte do tempo, o feedback irá apontar passagens que um autor não se atentou, apontar pontos cegos e coisas que trazem sentidos estereotipados de determinada pessoas e/ou cultura.

Mantenha a mente aberta ao receber o feedback. Em suma, a crítica visa, aumentar a qualidade do seu livro.

4. Revise de acordo

Após conversarem e tirar todas as dúvidas possíveis, além de aprender muito com o leitor, cabe a nós autores fazermos os ajustes necessários. Por outro lado, você pode bem não seguir todos os conselhos, embora recomendado, adicionando uma ou outra mudança que achar conveniente.

Preciso de um leitor sensível?

Então você, como autor, precisa de um leitor sensível? Depende de algumas coisas como: o assunto sobre o qual você está escrevendo, seus personagens e onde você cai no debate sobre representatividade.

Normalmente em publicações com editores, é possível que boa parte dos mesmos identifiquem as problemáticas do seu livro e façam eles mesmos as sugestões. Todavia, caso entendam que está fora da especialização deles, podem sugerir a contratação de um leitor sensível. 

Em última análise, ninguém pode dizer como deve ou não ser o trabalho de um leitor sensível. Por fim, muitos escritores acreditam que tais leitores são completamente desnecessários e essa escolha fica à critério do autor. Em resumo, busque-os se acredita ser realmente necessário, caso negativo, aguarde um editor apontar um profissional ou até um leitor beta para te ajudar com essas dúvidas.


Para concluir, aprendemos muito sobre quem são esses leitores e como podemos usá-los para ampliar a qualidade do nosso livro. Caso você seja um leitor sensível, me inscreva e envie seus contatos para indicar seu trabalho neste artigo.

Raphael T. A. Santos é apaixonado por SciFY e literatura, tendo estado presente nas primeiras edições das antologias do Grupo Editorial Andross, com 6 contos, possuindo também uma publicação na antologia Rupturas, produzido no âmbito do Curso de Introdução à Escrita Criativa, coordenado pelo autor Tiago Novaes e, de forma independente, o conto de terror cósmico, Umidade, e atualmente escreve suas crônicas, tópicos de escrita criativa, carreira literária e marketing no site Escrita Selvagem. Publicou o seu primeiro livro de romance, Mãe de Sal, em 2021. Frágil como Origami é o seu segundo livro.

Um comentário

  • Elaine Furtado

    Olá!

    Sou leitora beta e revisora mas, também, auxilio na leitura “sensível”. Foco muito na questão de gênero, como os personagens são descritos. Penso ser importante, não só do ponto de vista de respeito ao diferente, mas também do ponto de vista comercial. Quando você escreve com responsabilidade, você acaba por atingir um publico maior. Ter uma escrita sensível não impede que você aborde nenhum tema, ao contrario, com uma forma inteligente de escrever, é possivel fazer uma narrativa inclusiva, você pode falar sobre tudo.

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