desaprendi os bons tempos
Crônicas

Desaprendi Os Bons Tempos

Chego em tenra idade, onde desaprendo tudo aquilo que me foi moldado nos últimos tempos. Aqueles bons tempos. Nada em vão passou, mas existe um certo receio em não sentir a mesma emoção de outros tempos que hoje confesso nem mais conseguir mensurar em pensamentos.

Desaprendi a viver, não me agrada mais a breve ilusão de criar vínculos duradouros, sinto que as atitudes e aquilo que falo não causa nenhum impacto no outro.

Ignoram as palavras, como se tivesse pronunciado em outro idioma, talvez em código binário, que só máquinas podem processar. Digo algo ofensivo? Falo coisas das quais não deveria? Está no silêncio do outro a mesma repulsa que sinto com o desinteresse?

Quando novo fazer amigos era fácil, os mesmos apareciam com interesses iguais, se desenvolviam, tinham pouco conflito e então pareciam me acompanhar lado a lado. Hoje não, os vínculos não são os mesmos, é difícil fazer novos amigos, não há mais interesse pelo outro, apaga-se qualquer probabilidade de compatibilidade.

Desaprendi a fazer amigos, assim como alguém que andou a vida inteira de bicicleta e não sabe mais onde pôr os pés. Sinto-me excluído das relações que para outros parece ser tão rápida e prática, já quanto a mim, sinto diversas barreiras que me impedem de seguir adiante.

Seria este, um novo antissocial, moldado em traumas que afastam de amizades fugazes e não duradouras. Será nostalgia, um desejo intrínseco de retomar as mesmas facilidades que pareciam estar presentes no meu dia a dia? Quando foi então, que a chave mudou, que o fácil se tornou esquisito e o interesse em supérfluo.

Laços antigos não serão mais os mesmos, após tentar, observo que aquilo de antes morreu em memórias que se apagam com o tempo, perdem a cor e formam sombras que parecem querer assombrar meus pensamentos.

Desaprendi a ser quem era, ou estaria então cada dia mais exigente, para não aceitar meia amizade, fugaz momento de compartilhamento, fechado em um laço tão frágil que parte com a menor das rupturas.

Questiono se devo abraçar as sombras das memórias e buscar suas novas companheiras, ou ainda, abraçar o vazio e deixar que as mesmas fiquem presas no passado da estória.

Tenho inquietações de mais, covardia para quê?

Raphael T. A. Santos é apaixonado por SciFY e literatura, tendo estado presente nas primeiras edições das antologias do Grupo Editorial Andross, com 6 contos, possuindo também uma publicação na antologia Rupturas, produzido no âmbito do Curso de Introdução à Escrita Criativa, coordenado pelo autor Tiago Novaes e, de forma independente, o conto de terror cósmico, Umidade, e atualmente escreve suas crônicas, tópicos de escrita criativa, carreira literária e marketing no site Escrita Selvagem. Publicou o seu primeiro livro de romance, Mãe de Sal, em 2021. Frágil como Origami é o seu segundo livro.

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