desenvolvimento de personagem
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Desenvolvimento de Personagem: Escrevendo Personagens Inesquecíveis

O desenvolvimento de personagem é um processo para construir personagens multidimensionais, com personalidades, histórias de fundo, objetivos, pontos fortes e fracos. Além disso, pode acompanhar a criação do arco de personagem, onde o mesmo se transformará no decorrer da história.

Então, como desenvolver um personagem? Para fazer isso funcionar, você primeiro deve entender que eles precisam se conectar com seus leitores, personagens bens construídos geram identificação com o leitor, já aqueles superficiais, costumam nem ser lembrados.

Neste artigo, você vai aprender como desenvolver seus personagens e fazer com que permaneçam na mente dos seus leitores mesmos após leram a última página. Para escrever personagens assim, você precisará:

  • Justificar a razão de ser do personagem, estabelecendo seus objetivos e aquilo que o motiva durante o enredo;
  • Certificar que tenham pontos positivos e negativos;
  • Dê conflitos internos e externos para enfrentar;
  • Garanta se assume uma posição estática ou dinâmica;
  • Construa sua história de fundo;
  • Desenvolva suas características externas e aquilo que os torna únicos;
  • Os dê maneirismos para se destacarem dos demais;
  • Torne suas ações e diálogos críveis;
  • Evitar o maior erro no desenvolvimento de personagem.

Nas próximas linhas, vou te ajudar a construir e dar maior profundidade aos seus personagens. Vamos começar por etapas no desenvolvimento interno e do seu caráter. Pense que está trabalhando de dentro para fora na construção, então as escolhas que fizermos nas primeiras etapas, serão fundamentais para a construção de todos os elementos do enredo.

1. Estabeleça seus objetivos e motivações

O objetivo pilar do seu personagem é aquilo que faz a história existir e pelo que vale a apena contá-la. Principalmente, é aquilo pelo qual seu personagem quer do enredo e o que o está impulsionando em sua jornada. Sem isso, o arco de personagem é inutilizável.

Vamos conferir alguns exemplos famosos de objetivos de personagens:

  • O objetivo de Harry Potter é derrotar aquele-que-não-deve-ser-nomeado
  • O objetivo de Bilbo é ajudar os anões a recuperar o reino perdido de Erebor
  • O objetivo de Paul Atreides é vingar seu pai assassinado

Agora, quais as motivações que são formadas graças ao objetivo do personagem. Quais influências internas e externas os impulsionam? Vejamos agora os exemplos:

  • O objetivo de Harry Potter é derrotar Voldemort, não apenas pela paz no mundo bruxo, mas para derrotar aquele que é o responsável pela morte dos seus pais.
  • O objetivo de Bilbo é ajudar os anões a recuperar o reino perdido de Erebor, o tirando do conforto de sua toca no Condado, e o levando a novas aventuras e a alimentar a sua vontade de descobrir o desconhecido.
  • O objetivo de Paul Atreides é vingar seu pai assassinado, não apenas para provar sua inocência, mas para descobrir as razões sombrias por trás do ato.

Se você está batendo a cabeça para definir o objetivo do seu personagem, tente pensar o que faria ele se sentir feliz e realizado. Está é sua motivação. Em seguida, pergunte a si mesmo, o que eles poderiam fazer para encontrar essa felicidade. Aqui temos o objetivo.

Se você está lutando para encontrar o cerne das motivações do seus personagens, tente fazer perguntas com “por que”. Isso ajudará a desenvolver uma lista de motivações em diversas camadas.

Se o objetivo do personagem é reencontrar um irmão perdido, sua motivação é porque ele se sente sozinho e sem pessoas conhecidas. Por que? Talvez porque eles não tiveram relacionamento duradouros com familiares. Por que? Porque seus pais o deixaram para a adoção e eles não tiveram mais notícias deles. Por que? Porque eles não eram capazes de cuidar de duas crianças e acharam que era a solução mais fácil.

Veja como ao jogar perguntas em certas conclusões, podemos aprender muito sobre o personagem e seus motivos para reencontra seu irmão(objetivo) porque sente uma necessidade de criar vínculos perdidos a muito tempo(motivação).

Portanto, para estabelecer os objetivos e metas, se faça as perguntas:

  • Qual é o objetivo deles?
  • Quais são suas motivações?
  • O que eles estão dispostos a fazer para alcançar seu objetivo?
  • O que aconteceria se eles simplesmente não conseguissem atingir seu objetivo?

2. Defina conflitos externos e internos

Todo personagem interessante precisa enfrentar obstáculos para alcançar seus objetivos. Imagine se Frodo caminhasse até a montanha da perdição, jogasse o Um Anel e então voltasse para casa sem os desafios, não seria uma história crível e muito menos memorável. São os obstáculos que enfrenta, os orcs comandados por Sauron, o poder do Um Anel sobre ele, os conflitos com Gollum e outros pontos de tensão que dão a cor e o tom do desafio.

Você notará que Frodo passa por conflitos externos (protagonista vs antagonista), e ainda por conflitos internos (protagonista vs ele mesmo), na sua luta para terminar a missão. Todos os personagens precisam ter algum nível de conflito no enredo, principalmente aqueles que os fazem encarar aquilo que estão enfrentando. Nem sempre precisa ser algo físico e mensurável, as vezes a mente do protagonista pode o estar pregando uma peça ou é tão inocente que não percebe as crueldades que o rodeia.

Para descobrir os tipos de conflitos, pense nas seguintes visões:

  • Personagem: exemplo, Harry Potter vs Voldmort
  • Sociedade: exemplo, Katniss Everdeen vs A capital em Jogos Vorazes
  • Natureza: exemplo, Paul Atreides vs Planeta Deserto em Duna
  • Tecnologia: exemplo, Case vs Matrix em Neuromancer
  • Sobrenatural: exemplo, Jake Torrance vs o Hotel em O Iluminado
  • O espelho: quase todo protagonista enfrente conflitos consigo mesmo, seja contra seu passado, seus vícios ou questões internas.

Portanto, ao construir seus personagens através de conflitos, faça as perguntas:

  • Que conflito meu protagonista pode enfrentar?
  • São os conflitos internos ou externos que tem o maior peso no enredo? Um conflito é consequência, ou originário de outro?
  • Como cada conflita afeta meu personagem na busca de seus objetivos?

3. Certifique-se de que o personagem tenha pontos fortes e falhas

As intrigas na sua historia precisam fluir conforme seu personagem responda aos conflitos. Por sua vez, ao enfrentar desafios, deverá ser capaz tanto de usar seus pontos fortes como oportunidades, quanto conhecer suas falhas que podem ameaçar sua jornada.

Se Harry Potter é corajoso e leal como é definido os membros da Grifinória, sua teimosia e imprudência coloca seus amigos e a si mesmo em grandes enrascadas. Outro exemplo, Frodo é altruísta para aceitar o fardo que lhe é dado, mas é dependente totalmente de outras pessoas, como amigos e aliados, para o ajudar na missão.

Para que o seu leitor seja capaz de torcer por seu personagem, faça com que seja plausível a superação dos desafios, mas também deixe evidente tudo aquilo que eles podem perder se não conseguirem vencer. A tensão é aquilo que fará sua trama andar, então permita que seu personagem ganhe, mas também faça com que ele perca, mostre ao leitor que não é uma zona segura e que podem existir surpresas na próxima página.

Pense em Game of Thrones, diversos personagens sagazes e brilhantes, que mesmo apesar de suas habilidades, perdem tudo por um único deslize(seus pontos fracos, como excesso de confiança ou falta sensação de segurança). O grande truque é tornar o personagem relacionável em algum nível com o seu leitor, se ele puder sentir na pele o que ele está passando, o que estiver em jogo se transforma em algo real e perigoso de verdade.

4. Decida se o personagem é estático ou dinâmico

Existe um mito no mundo dos escritores que personagens precisam ser dinâmicos, com grandes arcos e mudanças físicas ou espirituais. Entretanto, diversos personagens emergem de uma longa jornada sem ao menos mudar uma vírgula. Esses são os personagens estáticos, sua existência pode ser tão impactante quanto o dinâmicos e sua jornada não perde o valor apenas por não terem mudado.

Vamos nos aprofundar nas principais diferentes entre estes tipos de personagens.

Personagens que não mudam porque são quem eles são
Muitos personagens não mudam durante suas aventuras. Por exemplo, Sherlock Holmes é de natureza imutável e cada aspecto do seu desenvolvimento o faz tão inesquecível que não desejamos que perca sua identidade. Ainda assim, essa confiança, sobre seus pontos fortes, pode fazer com que suas fraquezas fiquem evidentes e em muitas vezes, não seja capaz de aprender com as experiências e mudar. Este é um clássico personagem estático.

Personagens que sofrem mudanças drásticas
Um personagem dinâmico é construído por meios dos conflitos que enfrenta. Não somente, mas pelas mudanças que podem ocorrer em nível do subconsciente. Em Duna, Paul acaba se redescobrindo em diversos níveis, sejam físicos ou mentais, mudando não apenas sua personalidade, ou arquétipos, mas também como encara o mundo. Este é um tradicional personagem dinâmico.

Personagens que não mudam para realizar grandes mudanças no mundo

Diversos escritores apostam em enredos complexos e conflitos externos para compensar os protagonistas estáticos. O mundo ao seu redor pode mudar e esses protagonistas, podem continuar sendo que eles eram desde o começo. Por exemplo, Katniss Everdeen de Jogos Vorazes, uma personagem que em alguns momentos é um pouco dinâmica, mas não tanto para escapar da sua formação estática. Ela causa grandes mudanças ao seu redor, mas sua essência continua a mesma até os últimos momentos.

Apoiando seu protagonista por meio de personagens secundários
Muitos escritores, investem em personagens secundários estáticos para apoiar um personagem principal dinâmico. Sendo assim, seu personagem pode ir mudando durante o rumo da sua trama, mas os contrastes dos personagens secundários cooperam para destacar suas qualidades peculiares ou até mesmo defeitos. Por exemplo, o contraponto de Harry Potter é Draco Malfoy, privilegiado e egoísta, enquanto o outro, imprudente e briguento.

Ao desenvolver seus personagens pensando no seu arco narrativo, se faça as perguntas:

  • O quanto eles vão mudar?
  • Algo os inspira na mudança?
  • Vão mudar para melhor?
  • Quem sabe para pior?
  • Será o mundo e/ou as pessoas ao redor que vão mudar por sua causa?

5. Crie personagem com um passado

Um personagem não pode ser uma folha em branco. Pensa comigo, se sua história de vida até agora te moldou de alguma forma, a mesma situação deve ter transformado seu personagem. Sendo assim, você deve desenvolver o passado dos seus personages o máximo possível, desde que te ajude na história que você quer contar.

Ao construir personagens, faça as seguintes pergunta:

  • Quais momentos do seu passado desempenharam um papel fundamental para quem eles se tornaram no hoje?
  • Eles têm alguma memória que foi suprimida?
  • Possuem memórias mais felizes?

6. Desenvolva as características físicas do personagem

Não falo apenas de escrever a cor do cabelo ou o tipo de nariz, mas o mínimo fato de você construir seu personagem com características que o diferenciam dos outros, faz mudar a percepção que outros tem dele e até mesmo o seu leitor. Por exemplo, a família Targaryen de Game of Thrones possui cabelos branco prateados, qualquer personagem que tenha os mesmos cabelos será identificado como alguém da família e qualquer um sabe o que esperar deles.

Ao iniciar a criação de personagem, dedique um tempo para esboçar as características físicas, incluindo:

  • Aparência: Como eles se parecem? A aparência deles desempenha um papel na história?
  • Voz: Como eles falam? Eles possuem sotaque ou uma cadência incomum? A voz deles parece “combinar” com a sua aparência?

Pare te ajudar a montar seu personagem, confira o modelo de ficha de personagem que te ajuda em muitos dos pontos que você vai ler neste artigo. Copie o arquivo em seu computador e defina lá os elementos internos e externos que estamos conversando.

7. Faça o personagem se destacar com maneirismos distintos

O lado externo dos personagem é visto vai muito além da cor dos olhos ou do tom da sua voz. Afinal, para destacar um personagem de tantos outros, você vai precisar falar como eles se situam no espaço e como interagem com tudo ao seu redor, objetos e outros personagens.

Para refletir sobre estes pontos, faça alguns questionamentos como:

  • Estilo de comunicação: como eles interagem com os outros e como isso molda seus relacionamentos? Sua fala tem alguma idiossincrasia ou peculiaridade ?
  • Movimento: Como eles se movem em seu ambiente e como isso afeta a forma como são tratados? As pessoas costumam dar passagem pelo seu andar decidido, ou ignoram por estar sempre curvado e de cabeça baixa?
  • Tiques: O que eles fazem quando estão nervosos, incertos de como proceder ou prestes a desmaiar de exaustão?

Alguns maneirismos dependem das situações, aparecendo apenas quando são necessário. Por exemplo, Harry Potter costuma esfregar sua testa quando a cicatriz dói. Da mesma forma, Nynaeve da série Roda do Tempo tende a puxar sua trança quando está ansiosa. Tudo é questão de quando esses maneirismos aparecem e por qual motivo.

Outros maneirismos são parte do personagem e não precisam de gatilhos. Por sua vez, o sorriso de deboche de um personagem pode ser sua marca registrada, enquanto para outro, o roer as unhas é algo incontrolável.

Para tornar seu personagem inesquecível, considere incluir pelo menos dois tipos de maneirismos ao seu repertório. Afinal, é bem mais fácil saber um ou dois tipos de ações para escrever, do que escolher várias e ficar na dúvida se o personagem com raiva grita, rosna ou fica calado e resmungando.

8. Pesquise comportamentos para um personagem crível

Quando se trata da construção de personagem, você não quer que sejam superficiais e sim que pareçam pessoas reais que podem ser encontradas andando na rua.

Aqui então entra a pesquisa. Por exemplo, se você quer escrever sobre detetives britânicos, mas nunca nem colocou os pés fora do seu estado, é valioso que você pesquise comportamentos e culturas das quais quer escrever. Afinal, você está escrevendo um aspecto do personagem que não sabe como funciona na prática.

Pensa comigo, você não quer colocar gírias brasileiras em um detetive britânico. Claro, a não ser que ele tenha morado boa parte da vida no Brasil. Enfim, mesmo que queria deixar mais amigável ao seu leitor, ele não deveria falar de uma forma que não seja verídica, e isso requer pesquisar para montar um histórico e base comportamental.

Agora, como fazer isso? Não precisa ser algo tão absurdo, você pode bem procurar por gírias comuns de determinado país, cidade ou afins e ler diversos artigos que apresentem as informações que você deseja. Mas nada impede de ler ou assistir séries com a temática que está escrevendo e ir absorvendo aquela cultura e ir montando a do seu personagem no caminho.

Entenda que a pesquisa é interessante se você quer um personagem com identidade e experiências substanciais. Quão maior for a construção do personagem, maior será a quantidade de pesquisa que você precisa realizar.

Nesse caso, aposte sempre na leitura. Afinal, um escritor que não tem interesse na leitura e nem em consumir livros do gênero literário que escreve, está fadado ao fracasso. Por sua vez, se estiver escrevendo um personagem com características mais delicadas, pode investir em um leitor sensível para te ajudar a lapidar seu personagem.

9. Evite o maior erro de desenvolvimento de personagem

Até agora, você foi capaz de criar um personagem de dentro para fora, passando pelos objetivos e motivações que definem o papel deles na história, para então, construir os outros detalhes que moldam seus comportamentos e aparência.

Porém, você precisa evitar cometer o maior erro de desenvolvimento de personagem! Tornar seu personagem perfeito demais.

Já falei em como dar pontos positivos e negativos antes, então você precisa fazer com que estes existam. Você tem liberdade para nivelar seus personagens, mas precisa equilibrar estes dois pontos e fazer com que sejam tão importantes na sua criação.

Se seu personagem tiver pequenas fraquezas para equilibrar com grandes forças, ela será alguém irreal e perfeito em excesso. Voltando ao exemplo do Sherlock Holmes, por mais que ele seja um homem da ciência, erudita e não muito afeito às emoções, seu egoísmo, tendência em ter respostas certas para tudo e perfeccionista, acabam por trabalhar como grandes desequilibrios para seus pontos fortes.

Portanto, certifique-se de que seu personagem tenha falhas, os tipos de vulnerabilidades que realmente desempenham um papel no arco de personagem. Talvez seu personagem seja um grande detetive, mas costuma confiar em excesso na ciência e muito pouco na sua ou na intuição daqueles que o estão ajudando.

Depois de tudo que estamos falando, entenda que seu personagem precisa ser humano. Se você conseguir tornar seus personagens tão reais como qualquer pessoas, está no caminho certo para criar personagens inesquecíveis.

Quando você estiver com tudo pronto, teste seus conhecimentos com 8 exercícios de desenvolvimento de personagem e aprimore ainda mais a história que você quer contar.


Agora me conta, você tem suas próprias dicas para construir um personagem? Ou consegue lembrar de algum personagem que se apaixonou? Deixe sua opinião nos comentários ou tire suas dúvidas!

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