A promessa da Virgem: contando histórias que celebrem a criatividade, o espírito e o poder feminino.
A Promessa da Virgem ou do Virgem, diferente das jornada da heroína e a do herói, busca uma abordagem que retrate o feminino e sua autenticidade, evitando limitar o gênero do protagonista. Não que as outras explicitamente afirmem suas limitações, mas a que você vai conhecer é a única pensada para qualquer tipo de personagem.
Kim Hudson, a desenvolvedora deste método, planejou seu modelo para escritores e roteiristas habituados com a estrutura de três atos, pensando nos arquétipos de personagens e nos termos de contador de histórias.
Algumas das etapas da jornada da promessa da virgem não tem equivalência com a Jornada do Herói, mas refletem, em vez disso, uma estruturação emocional interna e nos desafios da vida. Vamos conhecer?
As treze etapas de A Promessa da Virgem – The Virgin´s Promise
1. O Mundo Dependente
A protagonista está presa ao seu mundo habitual por sobrevivência, seja por motivo social, proteção ou como segurança de amor condicional. Basicamente, ela depende dos outros para sobreviver.
2. O Preço da Conformidade
A virgem, ou o inocente, reprime seus dons para manter o status quo. Pode não perceber que está enclausurado na “Mundo Dependente”, ou pode estar extremamente consciente da necessidade de esconder sua verdadeira natureza. Além disso, acredita nas opiniões negativas que os outros têm de si e se sente inútil. Um personagem incapaz de quebrar suas correntes ou abrir suas asas.
3. Oportunidade de brilhar
Chance de se expressar sem riscos seus dons para o mundo dependente. Pode descobrir um talento, ser direcionada para isso ou pode agir no interesse de outro que precisa de ajuda. Agora, reconhece uma parte adormecida de sua alma ou usa seu talento de uma nova maneira.
4. Vestir a parte
A Virgem percebe que seus sonhos podem estar ao seu alcance. “Vestir a parte” significa que entra voluntariamente em um papel na história, aquela parte que lhe pertence. Este personagem, as vezes recebe um objeto ou talento que simboliza seu eu secreto. É agora que dá os primeiros passos em seus sonhos.
5. O Mundo Secreto
Agora tem um pé no mundo dos seus sonhos, mas continua relutante, talvez incapaz, de deixar sua antiga vida para trás. As pessoas podem depender dela ainda. Além disso, pode estar em perigo físico ou temer as consequências de abandonar o “Mundo Dependente”, que também podemos chamar de sua zona de segurança. A mudança é algo difícil, mas quem nunca hesitou antes de mergulhar no desconhecido?
6. Não se encaixa mais no mundo dela
À medida que a Virgem descobre sua verdadeira natureza, percebe que sua vida dupla não pode continuar. O risco de ser pega aumenta e pode sentir que ainda é uma estranha em seu mundo secreto. Aqueles personagens que variam entre correr riscos a rejeitar seus sonhos, pensando que pode voltar a ser como era antes. O retorno para a zona de conforto parece sempre tentador
7. Pego brilhando
O personagem é exposto em um mundo ou no outro por traição ou mudança de circunstâncias. Seu segredo não é mais um segredo. Agora, pode revelar sua força recém-descoberta ao resgatar outra pessoa que precisa de ajuda, ou demonstrar seu talento para ajudar o outro.
8. Desiste do que a manteve presa
Muitas coisas, ou pessoas, podem deter a Virgem: medo de perder entes queridos, ser ferida por um novo amor, medo do sucesso ou da perda. Agora, deve enfrenta esses medos e quebrar o domínio que os outros têm sobre si. Às vezes, a zona de conforto desaparece e ela se encontra sozinha pela primeira vez. A dona de seu destino.
9. Reino no Caos
No mundo em que tudo está bem, vem a ruptura. A personagem balançou seu mundo e mudou o status quo ao rejeitar as coisas que a impediam. Digamos que, perturbou a velha ordem e a zona de conforto pode vir atrás dela com todas as suas forças para se restabelecer.
10. Vaga no Deserto
A Virgem enfrenta seu momento de dúvida. Apesar da confiança recém-descoberta, as coisas não saem como planejado. Suas crenças são testadas ao máximo. Tudo pode parecer muito melhor em casa, tentando-a a desistir de suas noções malucas de independência.
11. Escolhe Sua Luz
Mas a personagem eventualmente escolhe brilhar novamente. Expressa seus dons em um mundo imperfeito, aceitando suas falhas e seus pontos fortes. Ganha novos insights sobre o mundo que deixou para trás. O poder mudou e agora ela detém pelo menos parte dele. No fim, pode cuidar de si mesma e se tornou uma pessoa auto-realizada. Mas sua jornada não para por aqui.
12. Reordenação ou Resgate
O mundo parece voltar ao próprio eixo. A personagem rompeu os laços com o “Mundo Dependente” na etapa 8. Agora, retorna à sua comunidade mais uma vez. Sua transformação torna o velho mundo um lugar melhor. Ela se reúne com pessoas que ama, que reconhecem e valorizam seu verdadeiro eu. Ela não é mais controlada por outros, é um ser independente e completo.
13. O Reino é Mais Brilhante
A Promessa da Virgem neste estágio, mostra que a personagem não apenas cresceu, mas o mundo também se tornou um lugar melhor como resultado de sua jornada. Integra em seu eu interior com o mundo exterior. Hudson explica: “Ela passou de conhecer o amor condicional para o amor incondicional”.
Agora, veja o vídeo com autora, Kim Hudson, que explica a criatividade, a narrativa e a perspectiva feminina com base em seus anos de pesquisa de contar histórias que originaram seu livro, The Virgin’s Promise: Writing Stories of Feminine Creative, Spiritual, and Sexual Awakening.
Os elementos compartilhados das jornadas arquetípicas masculinas e femininas
Para comparação A Jornada da Heroína e A Promessa da Virgem, mostram como são as histórias quando as mulheres alcançam todo o seu potencial. Por outro lado, A Jornada da Heroína (JH), A Promessa da Virgem (PV) e o monomito (MM) compartilham alguns elementos, demonstrando que pelo menos alguns componentes das histórias heroicas são universais:
- O protagonista rejeita ou suprime parte de si para se encaixar no mundo normal. JH: Separação do Feminino; PV: O Preço da Conformidade; MM: Chamado à Aventura, Rejeitando o Chamado.
- O protagonista expressa novos talentos ou conhecimentos sem se arriscar. Por um tempo, as coisas parecem que vão funcionar. JH: A Ilusão do Sucesso; PV: O Mundo Secreto; MM: Testes, Aliados, Inimigos.
- O protagonista vive um momento de dúvida. Eles se perguntam se escolheram o caminho certo e se podem voltar a ser como eram antes. JH: A descida; PV: Vaga no Deserto; MM: Aproximando-se da Caverna Oculta.
- Continuando a jornada, o protagonista faz o que deve para derrotar seus demônios, vencer o adversário ou completar sua missão. JH: Reconciliação com o Feminino, Reincorporação do Masculino; PV: Escolhe Sua Luz; Vaga no Deserto; MM: A estrada de volta, a batalha final.
- O protagonista integra seus lados conflitantes, reencontra o mundo, traz equilíbrio interior e exterior. Eles transformaram a si mesmos e ao mundo. JH: A União; PV: Reordenamento/Resgate; MM: Volta com o Elixir.
Se tudo isso pareceu confuso, abaixo temos um gráfico que vai te ajudar a observar como cada jornada é estruturada dentro da estrutura de três atos.
As discrepâncias e semelhanças entre as jornadas
Podemos observar que as jornadas masculinas e femininas de auto-realização seguem caminhos distintos, mas todas chegam em destinos semelhantes. Ambas traçam viagens de descobertas, confrontos e quebras de paradigmas para aprender sobre sua própria personalidade.
Jornadas com heroínas são sobre autoestima e encontrar sua identidade. As personagens trazem equilíbrio para si mesmas e depois mudam o mundo ao seu redor, sendo maus sobre jornadas do que destino.
Por outro lado, jornadas com heróis são pela busca de um objetivo externo. Tratam de uma obrigação e em assumir a tarefa ou papel pré-determinado. O herói procura corrigir um erro e trazer equilíbrio ao mundo e ao fazer isso, sofre transformações.
Agora, o que muito é comentando é que a Jornada do Herói se tornou estereotipada. À princípio, bastante justificado devido a massificação de livros, filmes e séries que incansavelmente replicam a fórmula à risca. Todavia, ainda existem autores que buscam brincar com essas regras e a à medida que criam variações destas jornadas, o padrão arquétipo muda e fica ainda melhor.
Colocando qualquer jornada para funcionar
Ao lermos sobre as alternativas para a Jornada do Herói, percebo que a Jornada da Heroína e a Promessa da Virgem são mais do que apenas variações femininas do monomito. Pelo contrário, estas duas cumprem a responsabilidade de desencadear mudanças em um mundo em constante evolução.
A verdade é que toda boa história é sobre mudanças. Independente da jornada do seu personagem, em cada cena deve haver mudanças, ou não é uma cena, pois todos os personagens devem mudar ou falhar em algum nível.
Na Promessa da Virgem e a Jornada da Heroína, temos diferentes maneiras de alcançar sua transformação. Por sua vez, são estruturas narrativas alternativas que podem dar nova vida às suas histórias.
Em suma, nada impede que essas três jornadas estejam presentes em um mesmo livro, com personagens distintos, pois uma não anula a outra. Então, que tal sentar para escrever sua próxima história envolvente?
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