5 Coisas Que Escritores Podem Aprender Com Filmes (e 5 que não deveriam)
Me diga se nunca assistiu a um filme ou a uma série de televisão e não teve vontade de escrever uma história tão envolvente como aquela?
Pois bem, meu amor pela escrita começou assim. Existem muitas maneiras de aprender a contar histórias por meio da análise do roteiro de um filme ou série, ao mesmo tempo, existem também aprendizados que podem se tornar maus hábitos.
Neste artigo, vou detalhar cinco coisas que podemos aprender sobre escrita assistindo filmes e cinco das quais devemos evitar.
Os escritores de ficção devem estudar cinema?
Se quer contar boas histórias, precisa consumir histórias. Felizmente, não importa que tipo de história e muito menos se é um clássico ou não. Se você está no sofá comendo pipoca e assistindo filmes, ou na cama com um bom livro, você está alimentando sua imaginação e recarregando sua bateria criativa.
Como escritor de ficção, você pode estudar filmes da mesma forma que estuda romances e contos.
Quando descobrir aquela cena maravilho, para e pense como que o diretor conseguiu realizar aquilo. Da mesma forma, naquelas cenas estranhas e incomodas, pergunte-se o que poderia fazer de diferente.
O pensamento crítico sobre as histórias que consumimos tem o poder de preencher sua bagagem criativa e crescer ainda mais como um bom contador de histórias.
5 coisas que você pode aprender com os filmes
Aqui estão cinco aprendizados de narrativa que você pode aprender assistindo filmes.
1. Como Criar um Diálogo Forte
O diálogo é muito além do disse ou não disse. Os filmes permitem observar como os personagens falam, suas expressões, reações e movimentos em conversas. Na literatura não é muito diferente, por isso aqui estão três perguntas que você deve fazer quando escrever diálogos.
- O que os personagens disseram em voz alta e o que isso me diz sobre quem são?
Muitos diálogos permitem estabelecer o personagem. Por isso, você consegue identificar quem são com suas atitudes e palavras, do que descrevendo atitudes.
- O que os personagens deixaram de dizer e como deixa o subentendido mais complexo?
O diálogo é a ponta do iceberg. Na literatura é mais prático apresentar o que o personagem não está dizendo, mas nos filmes essa camada acaba entrando não apenas em como eles reagem, mas principalmente no contexto dos quais são apresentadas.
- Para que propósito esse diálogo serve no enredo?
Cada diálogo deve ter um propósito. Afinal, até mesmo um bom dia meio atravessado pode falar bem mais da relação de personagens do que propriamente se eles tivessem falado o que desejavam. Não querem conflitos? Acham que a mensagem será entendida pelo outro? Efetuam por descaso?
2. Como estruturar um enredo
Os roteiros seguem uma estrutura pré-definida geralmente. Romances em média possuem 80.000 palavras, enquanto roteiros podem chegar ao máximo de 20.000. Os romances têm mais espaço para explorar detalhes, enquanto os filmes precisam atingir as Beat Sheet da história nos momentos certos para manter o ritmo e o interesse.
Como resultado, os roteiristas costumam usar escaletas, os quais são esboços de determinadas beats, os marcos da histórias e como deve ocorrer, para estruturar um enredo conciso.
Muitas beat sheet foram originalmente criadas para filmes, como Save the Cat! de Blake Snyder!, tornaram-se extremamente populares entre os romancistas.
Sempre que você assistir a um ótimo filme, preste atenção aos principais pontos de virada na trama. Por exemplo:
- Quando ocorre o incidente de partida?
- Existe uma mudança no objetivo geral do personagem principal e, em caso afirmativo, quando?
- As apostas aumentam para o personagem principal e, em caso afirmativo, quando?
- Quando o personagem principal atinge seu declínio?
- Quando o personagem principal tem seu confronto final com o antagonista/vilão?
Claro, você não precisa necessariamente se ater a uma estrutura de enredo tradicional, mas se você deseja seguir uma estrutura, assistir aos filmes é uma das melhores aulas.
3. Como criar um mundo
A fotografia de um filme sempre concretiza maravilhas com cenários envolventes e realísticos. Até mesmo em animações, como acontece com as do Studio Ghibli, podemos sentir os lugares que estamos assistindo.
O cenário é um componente essencial do Worldbuilding, e é fácil esquecer que existe um mundo inteiro ao redor do seus personagens. Por isso, se você está querendo melhorar a descrição dos seus cenários, os filmes podem te ajudar visualmente em como criá-los.
4. Como usar a linguagem corporal dos personagens
O corpo fala e é por meio deste que os atores revelam seu caráter e emoções.
Por exemplo, um personagem tímido pode evitar contado visual, enquanto um personagem mais agressivo pode bater a mão na mesa enquanto fala.
Se você procura tornar seus personagens ainda mais tridimensionais, pode começar a aprender com os filmes e prestando atenção na linguagem corporal dos atores.
5. Como dominar o mapeamento
O mapeamento significa a visualização onde os personagens estão em um determinado momento e como eles se movem. Você pode pensar em um mapeamento semelhante às atuações do teatro, onde um personagem anda de um lado e o outro entra em cena.
Pode ser difícil acompanhar onde todos os seus personagens estão em determinada ação, principalmente se você trabalha um número grande dos mesmos. Todavia, é bastante normal e muitos escritores têm dificuldade de gerenciar vários personagens ao mesmo tempo.
Além disso, também devemos pensar no percurso, se um personagem A levantou do sofá e foi para longe, quando ele conversa com o B que ainda está sentado, pode ser estranho se você dizer que eles estão cochichando.
Assistir a filmes com essas cenas de movimentação pode ser uma ótima maneira de descobrir como mapear o movimento dos seus personagens.
5 pontos para evitar aprender com filmes
Como nem todo aprendizado é positivo, aqui estão alguns pontos que você deve evitar aprende com o cinema e a TV,
1. Ignorar o mundo interno de seu protagonista
O livro pode colocar você diretamente na cabeça do personagem. Em contraste, os filmes não têm essa capacidade.
Boa parte do tempo o roteiro mostra um personagem pensando e sentindo por meio de ações externas, cerrando o punho quando está com raiva, ou olhando o vazio quando está desesperançoso, por exemplo.
Um erro comum dos escritores de ficção é fazer o mesmo, mostrar externamente ao invés de internamente. Todavia, por mais que o Mostre não Conte pareça sempre adequado, nem sempre seu uso na literatura é bom.
O problema dessa abordagem é que esta tirando o leitor da cabeça do protagonista e mostrando o lado de fora, quando podemos apresentar o que se passa dentro da sua cabeça.
Exemplos práticos:
- Externo (melhor para filmes): “Arthur se virou para olhar o homem atrás dele. Seu queixo caiu de surpresa quando o viu.”
- Interno (melhor para livros): “Arthur se virou. O homem atrás dele parecia exatamente com ele mesmo. Por um momento, sentiu como se alguém tivesse tirado todo o ar do seu peito. Mas não poderia ser ele ali parado, sabe que é filho único.”
2. Mostrando cenas desnecessárias
“Show Don’t Tell” é uma regra importante como abordei antes, mas não deve ser seguida o tempo todo.
Precisamos de um equilíbrio entre as cenas. Se no cinema podemos ver os personagem abrindo a geladeira e caindo todas as prateleiras, enquanto de forma atrapalhada tenta organizar tudo, na literatura você não precisa detalhar cada item e cada ação, apenas pode resumir e dizer que tudo estava dando errado naquela manhã.
Um erro comum é querer mostrar ao leitor as cenas como são mostradas, porque é assim que um filme faria. Por exemplo, cenas de transição, quando um personagem está dirigindo ou escovando os dentes, geralmente são cenas descartáveis para sua história.
Resumir o que estamos vendo é difícil para o cinema, mas é perfeitamente aceitável quando estamos falando de escrever ficção.
3. Confiando na Visão e Audição
O cinema possui o poder de duas ferramentas sensoriais, a visão e o som. Por mesmo que ainda não podemos ter outros dos sentidos, de alguma forma nossa memória tem o poder de preencher essas lacunas, seja no cinema ou na literatura.
Com livros é diferente. Não devemos subestimar o poder dos outros detalhes sensoriais. Por exemplo:
Visão e Som (melhor para filmes): “Carolina ouviu o som do trovão e viu a luz iluminar a noite.”
Cinco sentidos (melhor para livros): “Carolina sabia que o raio ia cair assim que sentiu a estática na própria pele, as primeiras gotas de chuva eram geladas ao todo, o cheiro de ozônio no ar e o som do trovão chegou logo após visualizar ao longe o raio que partiu o imenso carvalho.”
4. Descrever muitas expressões faciais
Seu personagem não precisa sorrir para mostrar felicidade e nem fazer careta quando prova algo amargo. Este é um erro comum que se pode aprender com os filmes, afinal, sem isso é bastante difícil mostrar o que os atores estão sentindo ou pensando.
Os filmes não podem colocar você na cabeça do personagem, mas a literatura você pode descrever a emoção muito além da expressão facial. Deixe seu protagonista se expressar com o corpo todo, se for um POV, deixe que ele diga direta menta o que está pensando ou sentindo.
5. Podem sem limites
Os diretores possuem muitas restrições em suas produções. Seja localidade, figurino ou efeitos especiais.
Por outro lado, você escritor, tem um acesso ilimitado de recursos para escrever seu livro. Detalhe como desejar o seu cenário, explora adequadamente quantos personagens estão presentes e quão mágico o seu mundo pode ser.
Todo escritor tem uma liberdade que faz qualquer diretor sentir inveja, por este motivo muitas adaptações fracassam no cinema, seja por falta dinheiro ou empenho para colocar as brilhantes ideias de um escritor em ação.
Pois bem, aqui foram os cinco grandes aprendizados que podemos retirar dos filmes e cinco dos quais devemos evitar.
Agora me conta, quais são os filmes e séries que mais te inspiram em escrever? Deixe-nos saber nos comentários!