A viagem e o não existir
Meu caso com viagens de avião sempre foi uma relação de medo e pavor absoluto. Pensar em pisar na escada, sentar na cadeira apertada e ficar ali confinado eram motivos de pânico imediato.
É engraçado pensar que caiu um avião no ano em que nasci. Devo ter absorvido o pânico dos meus pais, mas também tem culpa os filmes, séries e tudo mais que abordam o tema com a maior naturalidade.
A imagem ao lado representa meu estado de total flutuação, pois passei meses, semanas ou dias sem saber o que esperar, apenas pensando. Vou viajar com meu amor; a decisão foi tomada, aceitei e agora? Pois bem, meu corpo e minha mente conseguiram segurar a ansiedade.
Já passei por grandes períodos sofrendo de ansiedade e depressão; logo, essa viagem seria um modo de vencer essas coisas, de vencer a mim mesmo. Não sou daqueles que acredita em autoajuda ou mesmo mudança de mindset. Por isso, absorvi o medo e tentei esquecer a viagem; era como se ela não fosse acontecer.
No dia, estava tudo bem: malas arrumadas, pegara um livro para ler, já sabendo que um celular ligado ou coisas assim fariam o avião cair. Era tudo uma questão de prevenção. Ir até o Aeroporto de Guarulhos foi tranquilo, sendo guiado por alguém habituado a viagens, e eu lá, perdidão, só seguindo a corrente.
Estava de cinto; tive que tirar devido ao bendito detector de metais. Então, tive que justificar para a polícia para onde estava indo: Ushuaia, ida e volta. Mas e se tivesse algo, uma ficha criminal escondida ou algo do tipo? Paranoia. Estava realmente em pânico por dentro, mas me segurei para não aparentar. Logo, chegamos no saguão, que estava abarrotado de pessoas; confesso que fiquei temeroso e tirei uma foto para guardar o momento.
Um tempo passou e chegou a hora: o aperto no peito e, então, o ônibus que nos levaria até aquele enlatado. Olhei o avião de longe, sem reação, sem saber se conseguiria subir. Tinha escada? Acho que sim. Só sei que fui e encontramos nossos lugares. Apertado. Claustrofóbico. Estava contando os segundos para começar a entrar em desespero.
Demorou uma eternidade até que o avião começasse a andar e realmente foi indo e indo, como se precisasse percorrer toda a pista em ar de graça. Já sabia; esperava o tranco; não deveria olhar para a janela, senão ficaria tonto. O tranco veio, e fui puxado para dentro da cadeira assim que decolou, a curvatura do céu mudando de ângulo. Não evitei olhar; logo a sensação passou, mas o mal-estar ficou. O avião deveria estar tremendo ainda?
No final, sabe o que é pior? O voo tinha escala; ainda teria que aguentar mais um tranco desses, e para voltar, seriam outros dois. Mas afinal, o que eu tinha a perder? Se estou aqui escrevendo isso, é porque sobrevivi, não ao voo em si, mas aos meus “maiores” medos.
Um comentário
Luciana
Muito bom o seu texto. Também compartilho desse stress em avião.