historia do personagem 7 dicas para criar passados envolventes e realistas
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História do Personagem: 7 Dicas para Criar Passados Envolventes e Realistas

A história de fundo, ou origem, de um personagem é um dos recursos mais poderosos para dar profundidade e coerência emocional à narrativa. Mesmo que nem tudo o que o autor cria sobre o passado de um personagem chegue ao leitor, esse conhecimento influencia diretamente a construção do enredo e das motivações internas do personagem.

Do protagonista ao vilão, passando por personagens secundários que aparecem só uma vez, todos eles carregam histórias que moldam quem são no presente. Abaixo, você encontrará sete dicas práticas para desenvolver histórias de fundo que realmente contribuem para sua história.

1. Entenda quem é seu personagem agora

O comportamento atual do personagem é uma janela para o seu passado. Um protagonista alegre e otimista pode ter sido criado em um ambiente acolhedor, ou talvez sua alegria seja um mecanismo de defesa. Um personagem reservado pode ter sido traído, humilhado ou simplesmente ensinado a desconfiar.

Perguntas como “O que ele diria em uma sessão de terapia?” ou “Qual é a dor que ele esconde?” ajudam a revelar a origem de certas atitudes. Essas nuances despertam curiosidade no leitor, que começa a querer descobrir mais sobre o que levou o personagem a ser como é.

2. Mostre que as pessoas mudam

O passado não deve ser apenas um espelho do presente. Mostre como o personagem evoluiu ao longo do tempo. Talvez ele tenha sido impulsivo e agora é cauteloso. Talvez tenha sido cheio de esperança e hoje seja cínico. Esse contraste entre o que foi e o que é hoje cria camadas dramáticas.

Pense em narrativas como The Handmaid’s Tale, de Margaret Atwood, em que o contraste entre a protagonista antes e depois do regime totalitário ressalta o impacto da opressão. Não precisa ser tão extremo. Mudanças sutis também funcionam, uma maneira de destacar como experiências moldam o indivíduo.

3. Crie um ponto de virada

Muitos personagens têm um evento catalisador em sua história que muda tudo. Pode ser uma perda, uma escolha moral, um encontro inesperado. Esse evento pode ser mostrado diretamente na narrativa ou somente sugerido.

Um exemplo clássico é Entrevista com o Vampiro, de Anne Rice. O ponto de virada de Louis, ao aceitar se tornar um vampiro, molda toda a sua trajetória, marcada por culpa, conflito e busca por redenção.

Pense em qual momento da vida do seu personagem mudou sua trajetória e como isso influencia cada escolha que ele faz agora.

4. Revele aos poucos

Nem tudo sobre o passado do personagem precisa ser revelado logo de cara. Guardar informações e soltá-las lentamente ao longo da história pode manter o leitor engajado e criar mistério.

Veja o exemplo de Darth Vader, cuja origem é desvendada gradualmente nos filmes de Star Wars. Inicialmente um vilão imponente, ele ganha camadas ao longo da saga até se tornar um personagem trágico e compreensível.

Revelar o passado gradualmente pode transformar a percepção que o leitor tem de um personagem e fazer com que ele reavalie suas ações sob uma nova luz.

5. Nem tudo precisa ser revelado

Como autor, você deve conhecer profundamente a história de seus personagens. Mas isso não significa que precisa contar tudo. Algumas partes podem (e devem) permanecer subentendidas, sugeridas ou até mesmo ocultas.

Em V de Vingança, de Alan Moore, a identidade e o passado do protagonista permanecem um mistério na maioria. Isso não enfraquece o personagem, ao contrário, realça a ideia de que ele representa um símbolo, não somente uma pessoa.

Use a omissão estratégica como uma ferramenta narrativa. O que você decide não contar pode ser tão poderoso quanto o que revela.

6. Use o passado para motivar o presente

As decisões e atitudes de um personagem são mais críveis quando ancoradas em experiências anteriores. A história de fundo pode justificar medos, ambições, fobias, obsessões ou objetivos e também pode gerar empatia.

Um bom exemplo é a série Dexter, onde o protagonista é um serial killer, mas sua história de fundo o torna mais humano aos olhos do público. Saber que Dexter assistiu ao assassinato brutal de sua mãe na infância nos ajuda a compreender (ainda que não justificar) seu comportamento.

Por isso, use o passado para fundamentar as ações do personagem e ajudar o leitor a compreender suas escolhas, mesmo quando não concorda com elas.

7. Mantenha a plausibilidade

Uma armadilha comum é exagerar na dramaticidade. Um personagem que perdeu os pais, sobreviveu a um naufrágio, foi criado por lobos e ainda tem superpoderes pode soar inverossímil, a menos que o contexto justifique tudo isso.

Se sua história se passa em um mundo mágico, como Percy Jackson, o leitor aceita certas premissas. Mesmo assim, Percy tem uma história de fundo identificável: dificuldades na escola, problemas familiares e uma sensação de não pertencimento. Esses elementos o tornam real aos olhos do leitor, apesar de sua herança mitológica.

Seja qual for o gênero, o passado do personagem precisa ser coerente com o universo narrativo. A história precisa ser crível nas regras da sua ficção.


Criar a história de fundo de um personagem é mais do que preencher lacunas. É uma ferramenta poderosa para construir personagens tridimensionais, motivados e emocionalmente convincentes. À medida que você conhece melhor suas criações, ficará mais fácil conduzi-las de maneira coerente — e o leitor, por sua vez, sentirá que está acompanhando uma pessoa real, com cicatrizes, desejos, traumas e sonhos.

Lembre-se: você não precisa contar tudo. Mas precisa saber o suficiente para que cada linha do seu personagem tenha peso, e cada decisão pareça inevitável.

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