Foreshadowing: o prenúncio explicado com definição, dicas e exemplos
O Foreshadowing é um dispositivo literário onde o autor dá dicas aos leitores sobre o que acontecerá mais tarde no enredo. Essa dica costuma ser utilizada nos estágios primários de um livro ou no começo da história, pois pode gentilmente criar aquela tensão e definir as expectativas dos leitores com relação ao nosso livro.
Por exemplo, em Jogos Vorazes, a personagem sabe o que está para acontecer, mas você leitor ainda não sabe como exatamente acontecerá, e é o “como” que importa. O uso do “como” é o que interliga o começo da sua história ao fim. A informação dos jogos cria uma tensão, uma rede de perguntas de quem será selecionado, quais os desafios, quais os perigos e o que está por de trás deste evento.
Agora, tenho certeza que despertei o seu interesse com uma pequena dose de Foreshadowing. Afinal, agora você quer saber como aplicar isso em seu livro e este artigo foi escrito justamente para te ensinar. Vamos lá?
Tipos de prenúncio
Existem maneiras de mostrar previsões em suas histórias, mas vamos acabar chegando em dois itens bastante diretos, sendo:
- Prenúncio direto que ocorre quando um resultado é diretamente insinuado ou indicado. Dá aos leitores uma gama de informação, levando-os a querer saber mais.
- O prenúncio indireto ocorre quando um resultado é indiretamente insinuado ou indiciado. Ele aborda sutilmente para um evento futuro, mas normalmente só é aparente para os leitores depois que essa ação ou evento ocorreu.
Prenúncio direto
O Narrador
Abordamos esse exemplo no início deste artigo. Em resumo, a nossa protagonista conta e fornece aos leitores informações importantes, mas deixe de fora o contexto ou detalhes.
Quando for trabalhar com um narrador que entrega seu foreshadowing, faça com que o prenúncio seja incluído com informações cruciais para a história. Deixe de fora tudo que é realmente real sobre isso. Pense como um convite do narrador ao leitor para continuar na leitura.
Pré-Cenas
Essas cenas mostram algo que terá um papel importante no futuro, mas geralmente se desenrolam como uma versão breve ou simplificada do evento real.
Pense num personagem que sempre desconfiou dos outros e quando precisa lidar com problemas acaba fugindo. Digamos que você fez este prenúncio no primeiro capítulo, então no final, seu personagem que mudou, criou laços com novas pessoas, ao sofrer de alguma ação perigosa, acaba por abandonar estas pessoas, afinal, sempre evitou os problemas.
Nomes tem poder
Acontece quando é citado casualmente um lugar, coisa ou pessoa em sua história, da qual indica aos leitores alguma relevância para o nomes. Por exemplo, se eu dissesse: “Vou estudar a noite com meu amigo”, você acharia Ok. Mas se lhe dissesse: “Esta noite vou ao cemitério estudar com o Anthony”, provavelmente você gostaria de saber mais.
Um bom exemplo é O Grande Gatsby. O título do livro nos apresenta um nome, as primeiras páginas nos dão informações, mas é só no segundo capítulo que conhecemos Gatsby.
Profecia
Para os fãs de Percy Jackson e Os Olimpianos, ou quem sabe, Os Heróis do Olimpo, podem saber exatamente do que estou falando. Nos livros, somos apresentados com profecias que vão sendo construídas durante o livro e sendo transmitidas para os volumes subsequentes.
A princípio, deixar o leitor saber o que pode acontecer é contra-intuitivo, afinal queremos que eles se surpreendam. Por outro lado, ao prenunciar o evento por meio do uso de profecia, podemos manter os leitores amarrados na história e ainda criar espaços para surpresas.
Prólogo
Em Game of Thrones, o primeiro capítulo nos apresenta a Patrulha da Noite e um prelúdio dos Caminhantes Brancos.
O prólogo aqui é usado por algumas razões: para contextualizar o universo de Westeros, mostrar ponto de vista diferente da narrativa ou definir os riscos que este mundo pode nos apresentar.
Este uso do prenúncio é um recurso literário que torna a história envolvente porque traz os leitores e permite que eles especulem o que está acontecendo.
Prenúncio indireto
Declaração Inócua
Embora possa dizer que os últimos exemplos pareçam prenúncios escondidos, às vezes é possível se utilizar de recursos ainda mais sutis e permitindo que o leitor volte e tente encontrar as pistas perdidas.
Tudo se concentra em algo que foi prenunciado, falas que parecem nada mais do que brigas casuais entre personagens, mas em algum momento você percebe que foi aquela cena que desencadeou ações irreparáveis no futuro.
Alguém diz: “Vá embora da minha vida” e no futuro, vemos que o que parecia uma briga, fez com que o personagem fugisse de casa e entrasse numa armadilha mortal. Embora esse foreshadowing não estimule o leitor em buscar mais informações, ainda pode levantar dúvidas se outras pistas foram despercebidas na leitura.
Falácia Patética
Este recurso acontece quando as emoções humanas são projetadas por coisas não humanas, como objetos ou a natureza. E pode ser algo muito eficaz.
Pense comigo, uma rajada de vento ou o sol queimando a pele podem dizer muito: primeiro por evocar uma sensação de mau presságio, enquanto o segundo pode revelar algum perigo iminente.
O clima, ou objetos podem descrever como personagens se sentem. Prato que sempre quebram ao toque do personagem podem indicar rachaduras na sua vida, ou quem sabe, uma tempestade evocando toda a angústia e raiva que uma cena esteja carregando.
Simbolismo
Uma cena em que um personagem encontra uma coruja leva uma mensagem bastante diferente de uma cena em que começa com um rato: um é um símbolo de sabedoria, enquanto o outro referi-se a ganância.
No foreshadowing os símbolos podem assumir diversas formas tanto reconhecíveis como abstratas, sendo uma ótima maneira de prenunciar e insinuando sem deixar tudo as claras.
Por metáforas e comparações
Metáforas e comparações são figuras de linguagem que podem ser usadas para descrever algo comparado a outro. A diferença entre estes dois é que, enquanto as metáforas dizem que A, na verdade, é B, as comparações dizem que A é o mesmo que B.
Ambos são elementos de prenúncio e podem aparecer em alguns exemplos como as descrições abaixo:
“Eu desci pela rua e encontrei de longe seus cabelos ruivos como um labareda à luz da lua minguante.”
“Sua beleza era como o fio de uma navalha enferrujada, mas ainda afiada.”
Nos exemplos anteriores, podemos entender uma descrição relacionando a beleza da mulher e o perigo que representa. Nem sempre é necessário usar desta forma, mas é uma maneira de dar profundidade ao enredo e ao que aquele personagem representa, neste caso, o prenúncio de perigo.
Objetos
Em outro artigo já abordei uma regra de contar histórias pela visão da arma de Anton Chekhov: se você vai chamar a atenção para algo ou alguma coisa, você deve eventualmente explicar por que valeu o esforço para descreve-lo. Caso contrário, deve ser removido.
Muitos autores costumam incluir objetos como itens que serão importantes no livro ou em subsequentes. Um exemplo que não é muito literário são os filmes do 007, sempre no início dos filmes do espião, objetos e engenhocas são apresentados e às vezes durante o desenrolar do filme vemos seus usos, em certos momentos até que inusitados.
Um exemplo interessante é em Peter Pan, o que movimento a história é quando o protagonista persegue a sua sombra, indo parar na casa de Wendy. Da mesma forma, o prenúncio serve como recurso que faz seus leitores perseguirem o enredo em conjunto com os personagens.
Por fim, a arte denominada de foreshadowing é muito valiosa na sua escrita ao criar experiências dentro do seu próprio livro, levando seus leitores em caçarem pistas, ou serem guiados pela maré da curiosidade. O prenúncio cria uma narrativa envolvente e interativa, permitindo especular enquanto o enredo acontece e, em adicional, uma reflexão mais aprofundada de todas as pistas ao terminar o livro.