Perpetuando a Ilha de Jeju com Tangerinas, um romance de formação de Enzo Fuji

Perpetuando a Ilha de Jeju com Tangerinas, de Enzo Fuji, publicado pela editora Mondru, é um romance de formação peculiar e delicado. Acompanhamos Hae-in, um jovem introspectivo que vive na ilha de Jeju (ou Cheju), na Coreia do Sul. A narrativa tem seu estopim quando, ao retornar para casa, ele encontra o avô sem vida. Esse evento o desestabiliza profundamente e, em meio à sua própria fragilidade, Hae-in é forçado a encarar a já delicada relação com o pai.

Três gerações de homens marcados pelo abandono e pelo luto: o menino foi deixado pela mãe, o pai foi abandonado pela esposa, e o avô carrega os próprios lutos silenciosos. O enredo se desenrola em uma ilha predominantemente habitada por mulheres — entre elas, as famosas mergulhadoras Haenyeo. O autor nos conduz por temas como identidade, relações familiares e as cicatrizes que se perpetuam através das gerações.

A ambientação pode soar estranha no início — pelo menos foi assim para mim, que não consumo K-dramas nem sou familiarizado com o universo do K-pop. Essa ausência de referência cultural me incomodou a princípio. Cresci imerso na cultura japonesa, mas a Coreia não é o Japão — a Ásia é imensa, diversa, e cada país carrega uma riqueza própria que ignoramos muitas vezes. Contudo, graças à narrativa sensível de Fuji, fui levado ao universo coreano: sua culinária, sua história e suas dores.

Enzo Fuji costura eventos com coragem, sem medo de abrir feridas para cicatrizarem à mostra. Hae-in se torna parte do sofrimento ao encarar a ausência de uma mãe que nunca chegou a ser mãe, a partida repentina do avô que não deixou respostas, e os traumas deixados pela ocupação japonesa em Jeju, além das feridas ainda abertas da Guerra da Coreia. O menino respira sua própria angústia enquanto aprende a viver sua vida verdadeira — não aquela vida imposta pelo sangue, pela expectativa ou pelo mundo.

É um garoto que precisa crescer, desvincular-se da infância, da adolescência, e finalmente encontrar sua própria identidade.

A vida, como as tangerinas, é amarga e doce. Lembrei das laranjas de Portugal — tão azedas que só servem para fazer doces. Uma comparação talvez injusta, mas que me levou a pensar em como as aparências enganam. Este livro, que começa com uma perda, se expande em um labirinto de emoções, tirando Hae-in da estagnação e impulsionando-o a perceber que nem tudo na vida é doce — e que o amargo também é parte do sabor.

Acredito que o romance de formação tem o poder de oferecer uma visão em constante crescimento do mundo, reconstruindo realidades e reinventando vidas a partir do olhar único do autor/personagem. Durante a leitura, fui mergulhando em diversas ideias, como as Haenyeo mergulham em um mar agressivo — sem garantias, sem recompensas, somente coragem.

Se você se encantar por este livro como eu, deixo algumas recomendações:

• As Últimas Mulheres do Mar & Haenyeo – A Força do Mar – dois documentários belíssimos que oferecem um olhar sensível sobre essas mulheres fascinantes e sua relação com o oceano.
• Se a Vida Te Der Tangerinas – uma série que me lembra uma versão coreana de A Amiga Genial

Sinopse

“Perpetuando a Ilha de Jeju com Tangerinas” é um romance de formação que acompanha Hae-In, um jovem introvertido que vive na Ilha de Jeju, na Coreia do Sul. A narrativa se desenrola a partir da morte repentina de seu avô, um evento que desestabiliza a já frágil estrutura familiar de Hae-In. A obra explora a jornada de luto e autoconhecimento do protagonista, permeada por reflexões sobre identidade, família e a influência duradoura do passado na vida presente.

Sobre o autor

Enzo Fuji é um escritor paulista que já se destacou na cena literária com seus livros de poesia e contos. Perpetuando a Ilha de Jeju com Tangerinas marca sua incursão no universo do romance, consolidando sua voz como um autor promissor e talentoso.

Instagram do autor: https://www.instagram.com/enzofuji/

Onde adquirir: Site da Editora Mondru