resenha moeda de troca de lucas mota
Resenhas

Moeda de Troca, de Lucas Mota: uma proposta ousada que tropeça na execução

Depois do impacto deixado por Olhos de Pixel, meu entusiasmo ao começar Moeda de Troca foi imediato. Lucas Mota provou, em sua estreia, ser uma voz poderosa da literatura contemporânea brasileira, com crítica, plural e profundamente conectado com a realidade social do país. Por isso, é com um misto de admiração e frustração que escrevo esta resenha.

Uma das maiores virtudes de Mota, publicado pela Editora Rocco, continua presente em Moeda de Troca: sua habilidade de retratar a diversidade com naturalidade e respeito. Os personagens são plurais, reais, livres de estereótipos rasos, e até mesmo quando flertam com caricaturas, o fazem com humor e leveza, nunca com desdém. Além disso, o autor continua firme em seu compromisso com temas políticos e sociais, tocando em feridas expostas do Brasil, um dos pontos mais fortes da obra!

No entanto, se por um lado o conteúdo tem força, a forma com que a história se desenvolve deixa a desejar. O enredo de Moeda de Troca se apresenta apressadamente, por vezes confuso, e com algumas falhas de continuidade que dificultam a imersão. A narrativa, que deveria nos conduzir com segurança, frequentemente se mistura ao protagonista, Rato, de forma tão íntima que perdi a noção de quem contava a história. Em certos momentos, parece um livro narrado em segunda pessoa, tamanha a fusão entre narrador e personagem. Isso prejudicou minha conexão emocional com Rato, uma peça central da trama que, para mim, ficou opaca.

Outro ponto que me incomodou foi a lógica do universo criado. A substância “Ox”, elemento-chave da trama, parece estar restrita somente ao Brasil. Dado o cenário geopolítico do livro, é difícil crer que outras potências como EUA ou União Europeia não tenham entrado na disputa, comprometendo a verossimilhança. Além disso, o desfecho da história se revela muito cedo, tornando o final previsível e esvaziando boa parte da tensão narrativa.

Com o avanço dos capítulos, percebi uma aceleração forçada do ritmo. O foco muda com frequência e a trama parece correr para um encerramento sem dar espaço ao desenvolvimento pleno dos arcos e personagens. Senti falta da adrenalina e do frescor do início do livro, especialmente na cena em que Rato descobre sua habilidade com a “Troca”, uma passagem empolgante que, infelizmente, não encontra eco no restante da narrativa.

Os diálogos, em várias passagens, carecem de emoção. Soam como vozes em uma sala branca: personagens parados, sem cenário, sem expressão. Isso torna a leitura fria, distante, diferente da vivacidade que encontrei em Olhos de Pixel.

Talvez parte da minha decepção se deva à alta expectativa que carreguei, um erro comum entre leitores apaixonados. Ainda assim, não posso deixar de pensar se houve o acompanhamento editorial necessário. A trama tem potencial e méritos inegáveis, mas tropeça onde não deveria.

No fim, Moeda de Troca é uma obra de temática rica e necessária, com uma proposta que merece aplausos, mas que falha em me arrebatar por completo. Continuo admirador do trabalho de Lucas Mota, e espero ansioso por seu próximo livro, com a certeza de que o talento está lá, esperando para desbravar em novas e emocionantes histórias.

Nota: 4/5

Achou que eu fosse dar nota ruim, não é? Que nada! Uns tropeços não vão arranhar este livro.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.