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Escrita Criativa

Escrever Diálogos: 10 Passos Para Escrever Conversas Naturais

Aprender a escrever diálogos eficazes é uma parte essencial da carreira literária de qualquer escritor, independentemente do gênero literário. Por sua vez, o diálogo mal construído pode fazer os leitores desanimarem do seu livro, mas um bom diálogo pode transformar seus personagens em pessoas reais e seus leitores em clientes satisfeitos.

Um bom diálogo não é apenas verossímil, mas também dispõe de exposição da cena, com linguagem única de quem está falando e coopera para mover sua história para frente. Sem diálogo, você tem apenas páginas e páginas de descrição com pouca ou nenhuma dinâmica entre os personagens.

Como uma das ferramentas de escrita mais poderosas, escrever diálogos naturais ajuda você a produzir um livro forte e com uma mensagem poderosa. Caso seja essa sua intenção. Agora, vou te ajudar a escrever diálogos com dez passos práticos e fáceis.

1 – Entre na conversa mais tarde

Parafraseando Alfred Hitchcock: “O drama é a vida com as partes maçantes cortadas.” Da mesma forma, podemos afirmar que um bom diálogo é como uma conversa natural, sem todos os floreios. Portanto, não tenha pressa em escrever seus diálogos, deixe que surjam quando for apropriado dentro do enredo.

Nada impede que seu livro comece com uma fala ou conversa, o que pode acontecer, mas tome consciência de que, em muitos casos, os leitores gostam de se situar no mundo primeiro, antes de serem inseridos em uma conversa, da qual podem não entender de imediato o propósito.

2 – Mantenha os incisos de diálogo simples

Os incisos de diálogo, ou conhecidos também como tags, são as frases em sua escrita que indicam quem está falando. Por exemplo: “Adorei a resenha que li sobre seu livro”, disse Marcel. Nesse caso, “Marcel disse” é a tag do diálogo e identifica o locutor, esclarecendo sua ação.

Claro, existem muitos outros incisos de diálogo além de “disse”: a lista do que usar em vez de “disse” é interminável. Mas, ao escrever seus diálogos, você pode manter esses incisos simples e sem grande elaboração.

Tome cuidado ao usar incisos diferentes de “disse”. As linhas de diálogo podem ajudar seu leitor a entender como o personagem está reagindo, mas também podem parecer que você está apenas querendo colocar palavras sofisticadas para rebuscar sua escrita. Por exemplo:

“Não esperava essa reação de você, estou decepcionada!” rimbombou Ana.
“Não esperava essa reação de você, estou decepcionada!” disse Ana.

Veja como a intenção da frase muda muito pouco. Claro que poderia ser dito que ela está brava, mas o uso da exclamação, ou ainda o modo como ela falou, entregam ao leitor a ação, que não precisa, em muitos dos casos, ser explicada didaticamente.

3 – Use ações nos incisos

Uma ação é a descrição das expressões, movimentos e pensamentos internos que acompanham o locutor. Por sua vez, está incluída no mesmo parágrafo do diálogo e indica que a pessoa que está agindo é a mesma que fala. Por exemplo:

“Não há nada para se preocupar”, eu disse, antes que o silêncio se tornasse humilhante para ele.

As ações ajudam a ilustrar o que está acontecendo além do diálogo e podem substituir, em muitos casos, a necessidade de incluir linhas em “ele disse” ou “ela disse”. Em suma, você pode testar usar incisos de uma única palavra que possuam significados ou ainda expandir seu diálogo e apresentar o que não está sendo falado naquele momento.

Afinal, quantas vezes você já esteve em um diálogo e disse uma coisa, mas gostaria de ter dito outra? Pois bem, seus personagens também são assim!

4 – Faça com que cada personagem seja único

Para escrever diálogos realistas, é preciso que cada personagem soe de forma distinta. Isso adiciona vários elementos, como sintaxe, dicção, níveis de comunicação pessoal, formalidades, humor, confiança e demais peculiaridades relacionadas à fala (como gagueira, resmungos ou ainda manias de linguagem).

Outro ponto: pense que seu personagem pode mudar conforme as circunstâncias da conversa, especialmente dependendo de com quem está conversando. Por exemplo, um executivo tende a falar com pessoas acima de seu nível hierárquico de uma maneira e com as pessoas abaixo de outra, o que é algo supererrado, mas exemplifica como alguns personagens podem mudar de atitude devido à sua personalidade.

5 – Desenvolva relacionamentos de caráter

O diálogo é uma excelente ferramenta para mostrar e desenvolver relacionamentos de caráter entre os personagens. Além disso, é uma ótima oportunidade para trabalhar as relações entre personagens e mostrar do que são feitos e do que são capazes. Por exemplo:

  • É reservado e tímido vs. confiante e extrovertido;
  • Leva as coisas a sério vs. atua de maneira despreocupada;
  • Tem aspirações pessoais vs. poucas aspirações ou nenhuma;
  • Quer ajudar os outros vs. não dá a mínima para o próximo.

Avalie cada um de seus personagens determinando como se relacionam e como reagem uns aos outros nos mais diferentes contextos. Em suma, imagine uma situação, como encontrar dinheiro na rua, e pense como seus personagens deveriam agir. Garanto que esse exercício poderá te surpreender.

6 – Mostre, não diga!

Em termos de como você escreve seu diálogo, possivelmente não quer apenas jogar tudo de uma vez, não é mesmo? Portanto, pense na estratégia de mostrar, não dizer, o famoso Show, Don’t Tell, em que os leitores fazem inferências com base nas pistas que você forneceu.

Por exemplo, digamos que dois personagens se encontrem em um bar e tenham a seguinte conversa:

“Ei, Ana. Há quanto tempo.”
“Marcel, bom te ver de novo, como você está? O trabalho não é o mesmo sem você.”
“Bem, você sabe que tive um bom motivo para sair.”
“Eu faço ideia. Mas também pensei que podíamos ter arrumado uma solução.”

Mesmo que esta seja a primeira vez que encontramos Ana e Marcel, podemos deduzir que eles são colegas que costumavam trabalhar juntos e que Ana sente sua falta, sugerindo que as coisas poderiam ter sido diferentes se ele tivesse ficado.

Ocultar essas informações no diálogo é muito interessante, pois você evita ter que usar o narrador para explicar em detalhes, como: “Ana e Marcel costumavam trabalhar juntos na farmácia. Marcel saiu depois de um problema com um cliente, mas agora Ana gostaria que ele voltasse, pois sabe que ele ficou desempregado.”

Claro, às vezes o diálogo é um bom veículo para contar literalmente o que está acontecendo. Mas, na maior parte da escrita, o diálogo deve mostrar, em vez de contar, para manter os leitores intrigados e interessados no que vai acontecer.

7 – Pingue-pongue como conversa

Ao escrever diálogos, devemos pensar no ritmo como uma partida de pingue-pongue. Essa regra pode parecer óbvia, mas você pode acabar esquecendo que, em uma conversa, quando alguém faz uma pergunta, está esperando uma resposta.

Para evitar isso, observe atentamente seu diálogo para garantir que não ocorram passagens longas e ininterruptas. Ou você está escrevendo um monólogo? Caso contrário, corrija inserindo questionamentos, comentários e outros breves interlúdios entre os locutores.

A princípio, se houver uma cena em que você sente que um monólogo longo é necessário, você sempre pode separá-la usando pequenos pedaços de ação e descrição ou com quebras de parágrafo padrão.

8 – Leia seu diálogo em voz alta

Boa parte dos diálogos ruins aparece quando você lê em voz alta o que acabou de escrever. Por isso, tente ler seus diálogos e escutar como essas vozes estão soando e se a mensagem parece algo que alguém realmente falaria.

Com o som da fala, somos capazes de perceber se uma piada é assertiva, se um personagem que fala bastante está conciso em seu diálogo, se uma voz não começa a soar inconsistente e se as perguntas e respostas transmitem exatamente a emoção que esperamos passar.

9 – Remova o diálogo desnecessário

Você sabia que escrever diálogos não garante que eles permanecerão na versão final do seu livro? Pois bem, em muitos casos, o diálogo será apenas uma parte das diversas ferramentas que nós, escritores, temos para contar uma história interessante.

Isso significa que, às vezes, eliminar diálogos que não são fundamentais para uma cena e/ou personagem acaba fazendo mais bem do que mal ao seu livro. Em resumo, se você implementou os últimos oito passos em sua escrita, poderá já ter notado que algum diálogo pode ser retirado e até mesmo reestruturado de outra maneira no seu enredo, sem mudar a história e a mensagem que você escreveu.

10 – Formate e pontue seu diálogo adequadamente

Pontuar e formatar seu diálogo corretamente torna sua história clara e compreensível, sem mencionar que saber quando colocar vírgulas, pontos finais, pontos de interrogação e travessões fará com que seu texto pareça polido e profissional para agentes e editores.

A formatação e pontuação padrão para o diálogo é bastante simples. Não vou me ater a passar um manual de como fazer sua formatação, pois, em suma, temos o travessão, e todo autor já está mais que habituado a seu uso. Entretanto, existem alguns erros que você precisará evitar, veja abaixo.

Principais erros de diálogo:

Muitos “disse” no diálogo
Como você já deve ter percebido, um dos erros ao escrever um diálogo é usar muitas vezes “disse”. Repetir constantemente “ele

disse”, “ela disse” a cada linha de diálogo torna sua escrita cansativa e, por isso, você pode substituir a palavra por uma ação ou gesto. Isso fará seu diálogo muito mais claro.

Falta de variação de incisos
Outro erro comum é a falta de variação de incisos e estrutura de sentenças no diálogo. Se você usar sempre a mesma estrutura, o leitor ficará entediado. Portanto, varie a ordem da fala e dos incisos, usando ações e/ou omissões para aumentar a fluidez da conversa.

Reafirmar o óbvio
A reafirmação do óbvio é um dos erros mais difíceis de identificar. Porém, seu leitor não é idiota, e você não precisa explicar em detalhes algo que já foi dito antes. Por exemplo, no diálogo:
“Claro que já fiz isso antes”, ela disse, enquanto sorria.
A repetição do sorriso pode ser desnecessária se a frase já expressa o tom da personagem.

Diálogos genéricos
Outro erro é o uso de clichês e frases genéricas, como:
“Ei, Ana. Há quanto tempo.”
“Sim, não vejo você desde a festa.”
A redundância enfraquece o diálogo e tira o realismo da conversa. Prefira usar diálogos mais elaborados e autênticos.

Desconsiderar o diálogo
Por fim, o maior erro que você pode cometer é não escrever diálogos em seu livro. Você sabia que, em média, os diálogos correspondem a 50% do que está escrito? Pois bem, ao não usar a ferramenta do diálogo, você está perdendo uma das maneiras mais eficientes de dar vida à história.

Escrever diálogos é complicado e pode ser algo bastante artificial, mas, com tempo e prática, você se tornará cada vez mais eficiente. Ao seguir esses dez passos, você estará escrevendo diálogos realistas, ricos e envolventes para todos os leitores.

3 Comentários

  • Tony Moura

    Muito bom o conteúdo! Parabéns!

    Gosto muito de diálogos, eles são a alma da história.

    Mas, se diálogo é tudo isso q imaginamos, por que o livro Torto Arado fez/faz tanto suvesso?

    Na história toda praticamente não há diálogo nenhum. E a narradora, uma mulher analfabeta que nunca tinha ido a cidade, às vezes usa palavras tão formais?

    Mas não deixa de ser uma bela obra.

    • Raphael

      Que bom que gostou!

      Então, fez sucesso por ter ganho prêmio, não é mesmo?

      Por outro lado, o livro tem diálogos sim, mas são poucos e muito é pensamento. Veja também que devido a falta de diálogos, os capítulos são pequenos, se fossem muito grandes, acabaria ficando quase como um monólogo e bem chato. Essa quebra é a melhor jogada para esse estilo de escrita.

      Acho que o fato de ser analfabeta não afeta a pessoa saber falar bem não viu, as palavras formais podem ser regionais também e costume de onde se passa o livro.

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