Como os Videogames me Tornaram um Autor Entusiasta por Criar Histórias
Quando criança, a leitura era minha única verdadeira saída quando queria me aventurar em mundos de fantasia. Eu adorava ação, batalhas e magia, mas me sentia limitada na forma de consumir essas histórias. Havia essa ideia de que, por eu ser um garotinho que gostava de fantasia, não me interessaria por coisas “de menino”, como esportes. Não importava que os livros que eu lia fossem a base para muitos dos jogos que estavam sendo lançados. Eu podia mergulhar em fantasia e ficção científica na leitura, mas sempre fui um péssimo jogador e precisava usar de gameshark para avançar.
Todavia, o fato de ser filho único e com amigos da escola que moravam longe, ter com quem jogar era quase um evento raro.
Descobri que tinha dois tipos bem distintos de jogos que me atraíam: os de fantasia intensa ou JRPGs de ficção científica, e os jogos fofos e relaxantes. Queria tanto lutar contra criaturas surper fortes em masmorras quanto cuidar de uma fazendinha.
Conforme continuei crescendo e jogando, percebi estar me afastando dos grandes RPGs de mundo aberto e preferindo jogos mais calmos, sem tanta ação e violência. Hello Animal Crossing. Era bom jogar algo onde o foco era apenas uma pessoa vivendo sua vida, sem a pressão de salvar o reino ou derrotar um império galáctico. O mundo ao meu redor já era caótico o suficiente, e eu só queria um momento de paz.
Após anos dedicados aos videogames, comecei a sentir falta de ler. Percebi estar gastando quase todo o meu tempo livre com jogos e queria equilibrar isso melhor. Assim, voltei a ler, começando pela minha longa lista de livros de fantasia e ficção científica.
Mas algo estava errado. Eu não estava me divertindo.
O problema era que eu havia limitado muito meus gostos literários. Só queria ler alta fantasia, grandes batalhas e muita magia, ou ficção científica pesada e futurista. Esse foco restrito começou a me cansar.
Você pode acabar exagerando numa coisa boa. Senti que já tinha lido todas as histórias sobre “derrubar o reino corrupto” que poderiam existir. A leitura começou a parecer mais uma obrigação do que um prazer. Olhando para trás, é óbvio que meu gosto estava mudando, mas no momento pensei estar perdendo o amor pela leitura.
Um dia, enquanto navegava pela minha biblioteca de jogos, tive uma revelação: nenhum dos meus jogos mais recentes era de fantasia ou ficção científica. Me dei conta de que talvez eu não tivesse perdido o interesse pela leitura, mas simplesmente comecei a gostar de outros gêneros sem perceber.
Meu gosto pela leitura era tão limitado quando comecei a jogar que eu mesma me bloqueava. Foi jogando videogames que experimentei novas histórias e gêneros, pelos quais me apaixonei.
Isso também me impactou na literatura, comecei a ler autores como Daniel Galera e Antônio Xerxenesky, livros que nem passavam pela minha cabeça que poderia gostar. Limitado, acreditando que eu gostava apenas de uma coisa, fui abrindo portas que nunca mais foram fechadas.
Além disso, não é que eu tenha deixado de gostar de fantasia e ficção científica. Eu só estava buscando algo novo. Os videogames serviram como uma espécie de ponte para essa transição, porque antes disso, eu não me permitia explorar outros gêneros nos livros. Eu estava me sabotando.
Graças aos jogos, redescobri livros incríveis. E, depois de um tempo, consegui voltar à minha lista de fantasia sem ficar entediada. O problema era simples: eu estava presa a um ciclo limitado de gêneros, e os videogames me ajudaram a sair disso.
Para um autor de livros, mergulhar em uma única fonte de inspiração pode ser perigoso, pois não nos permitimos conhecer aquilo que está fora da nossa zona de conforto. Graças a essa observação, escrevi meus dois últimos livros, Mãe de Sal e Frágil Como Origami, um romance contemporâneo e outro um romance de formação. Antes disso, estava tentando escrever um livro de fantasia que nunca passei de poucas ideias, depois então, tentei outro que até finalizei, mas nunca me deixou contente como eu era lendo outros autores. No fim, viver outras histórias me permitiu finalmente contar aqueles que eu gostaria de contar.
Não acredito que tenha deixado de ser um autor de ficção científica ou fantasia; na verdade, percebo que estou explorando novos gêneros e adaptando-os à minha voz de autor e ao estilo de escrita que venho desenvolvendo.
Se você sente que está preso em uma rotina de leitura, ou escrita, experimente outro tipo de entretenimento. Não precisa ser videogame — pode ser TV, filmes ou até podcasts. Observe o que você consome nesses meios e busque livros com temas ou elementos parecidos, especialmente se forem de gêneros que você não costuma ler. Quem sabe você não descobre um novo gênero favorito de uma forma inesperada?