
Ponto de Vista da Segunda Pessoa: Definição + Exemplos
Se há uma regra com a qual a maioria dos editores concorda, é esta: não escreva um romance com narrativa em segunda pessoa. Não concordo é claro, afinal, cada livro possui sua própria narrativa e se você deseja usar este ponto de vista, neste artigo vou te ajudar a compreender e dar exemplos práticos.
O que é ponto de vista de segunda pessoa?
No ponto de vista de segunda pessoa, o narrador se dirige diretamente ao leitor usando o pronome “você” (ou “seu”, “sua”, etc.).
👉 Veja um exemplo simples de narrativa em segunda pessoa:
Você acha que consegue ver a ponte à distância, mas não tem certeza.
Esse estilo transforma o leitor no protagonista da história, criando uma conexão imediata e íntima.
Mesmo a leve distância criada pela frase ‘Eu pensei’ é eliminada na segunda pessoa. Nesse POV mais próximo, não há ‘Eu pensei’ — há apenas o que você (ou nós, realmente) pensamos.
Por que usar o ponto de vista da segunda pessoa?
Apesar de ser raro, alguns autores ousaram usar a segunda pessoa com sucesso. Mas o que eles esperam alcançar com isso?
Aqui estão quatro boas razões para considerar o ponto de vista da segunda pessoa:
1. Cria maior intimidade com o leitor
O POV de segunda pessoa é o mais íntimo de todos.
A primeira pessoa convida o leitor a acreditar no que está sendo dito. Já a segunda pessoa não dá espaço para dúvidas. Você é o personagem, você fez aquilo — e ponto final.
Essa ausência de um filtro entre leitor e personagem elimina qualquer suspeita de “narrador não confiável” — afinal, o leitor está vivendo a experiência diretamente.
2. Cria um distanciamento emocional para o narrador
Em alguns casos, o POV de segunda pessoa é usado não para aproximar o leitor, mas para criar uma distância emocional entre o narrador e a história.
É como se o narrador estivesse dizendo a si: Você estragou isso, depois fez outra besteira.
O narrador usa a segunda pessoa para se afastar emocionalmente de suas ações — e o leitor sente esse conflito.
3. Dá ao narrador alguém para se dirigir diretamente
Alguns livros usam um estilo epistolar (em formato de cartas) ou de diálogo direto, o que cria a sensação de que o leitor está espionando uma conversa íntima.
👉 Exemplos famosos desse estilo:
- Drácula – Bram Stoker
- A Cor Púrpura – Alice Walker
- Os Treze Porquês – Jay Asher
Essa abordagem gera um senso de voyeurismo e aproxima o leitor dos personagens.
4. Reforça temas e mensagens centrais da história
O POV de segunda pessoa pode reforçar a mensagem principal de uma narrativa.
Se você vai usar o POV de segunda pessoa, faça isso intencionalmente. A segunda pessoa precisa ser essencial para o significado da história, não somente um truque estilístico.
Se o objetivo é envolver o leitor de maneira emocional e intelectual, a segunda pessoa pode ser a ferramenta certa.
Por que evitar o ponto de vista da segunda pessoa?
Apesar de suas vantagens, escrever em segunda pessoa é uma má ideia 99,9% das vezes. Eis os motivos:
1. É exigir demais do leitor
Você está pedindo ao leitor que se coloque na pele do personagem. Isso pode funcionar em histórias curtas, mas em um romance longo, o efeito pode se perder.
Se o personagem é desagradável ou antipático, o leitor pode rejeitar a história.
2. Pode dificultar a publicação
Se você está tentando publicar tradicionalmente, não se complique. Agentes literários e editoras são mais cautelosos com histórias escritas em segunda pessoa.
3. Funciona melhor em contos, não em romances
Um conto em segunda pessoa pode ser poderoso e direto, mas em um romance, o leitor pode perder o interesse.
Exemplos famosos de POV de segunda pessoa
Embora raro, alguns livros icônicos utilizaram a segunda pessoa com sucesso:
1. A Quinta Estação – N.K. Jemisin
Você é mãe de duas crianças, mas agora uma delas está morta e a outra está desaparecida.
A segunda pessoa reforça a dor e o choque emocional da protagonista.
2. Self-help – Lorrie Moore
Quando você tinha seis anos, pensava que “mistress” significava calçar seus sapatos nos pés errados.
A segunda pessoa reflete o distanciamento emocional da protagonista em relação à própria história.
3. Complicity – Iain Banks
Você ouve o carro depois de uma hora e meia. Durante esse tempo, você esteve na escuridão, esperando.
A segunda pessoa faz o leitor se sentir cúmplice das ações do assassino, gerando desconforto.
4. The Reluctant Fundamentalist – Mohsin Hamid
Com licença, senhor, mas posso ajudar? Ah, vejo que o assustei.
O protagonista fala com o leitor diretamente, criando tensão e conexão emocional.
Devo usar o ponto de vista da segunda pessoa?
Se você pretende publicar comercialmente, provavelmente a segunda pessoa será um obstáculo. Mas, se sua história exige esse formato para funcionar — e você está disposto a arriscar —, vá em frente.
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