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Carreira Literária

Romance de Formação: definição e exemplos de Bildungsroman

O romance de formação é um processo de amadurecimento, é uma jornada complexa, repleta de desafios e descobertas que moldam a visão de mundo e a identidade daqueles que os leem. Neste artigo, exploremos este gênero literário, também conhecido como bildungsroman, que captura a trajetória única de crescimento e amadurecimento. Além disso, abordemos desde os clássicos até as obras contemporâneas para melhor exemplificação destes romances.

O que é um romance de formação?

O termo “Bildungsroman” (Bildung significa “educação”, alternativamente “formação” e romana “romance”) em alemão podemos traduzir como “romance de educação” ou “romance de formação”, e se refere a uma narrativa concentrada no crescimento psicológico e moral do protagonista desde a infância até a idade adulta, em que a mudança de caráter é importante para o enredo. Essa mudança é central para o gênero, no qual o protagonista inicialmente ingênuo amadurece e se torna mais complexo emocional, psicológica ou espiritualmente.

No entanto, um Bildungsroman típico não apenas segue o protagonista desde a infância até a idade adulta, mas também explora as lições de vida que ele aprende ao enfrentar o mundo ao seu redor. Muitas vezes, o protagonista enfrenta um conflito inicial, como uma perda na infância ou uma desilusão com a sociedade. A narrativa acompanha então o protagonista em uma jornada física ou psicológica desafiadora, enfrentando dilemas morais e adquirindo experiências valiosas. No final, o protagonista amadureceu consideravelmente, demonstrando uma maior profundidade e maturidade.

As origens do Bildungsroman

As origens do termo “Bildungsroman” remontam ao início do século XIX e são frequentemente associadas a obras literárias que marcaram o surgimento desse gênero. Muitos estudiosos da literatura atribuem a Johann Wolfgang von Goethe o mérito de estabelecer as bases do Bildungsroman com sua obra “Wilhelm Meister’s Apprenticeship” (1795-96). Este romance acompanha um jovem empresário em busca de autodescoberta, delineando seu crescimento moral e psicológico ao longo do tempo.

Além de Goethe, “Geschichte des Agathon” (1766-67), de Christoph Martin Wieland, também é citado como uma influência fundamental para o desenvolvimento do Bildungsroman. Nestas obras, os protagonistas enfrentam uma jornada de amadurecimento, explorando questões existenciais e procurando por um propósito na vida.

O termo “Bildungsroman” foi cunhado em 1819 pelo estudioso de línguas Johann Karl Simon Morgenstern. Sua origem remonta a uma crítica recebida por Morgenstern, na qual seu ex-professor lamentou a crescente falta de substância em sua escrita, acusando-o de se concentrar excessivamente em si. Essa crítica inspirou Morgenstern a refletir sobre a arte, literatura e filosofia, culminando na criação do termo “Bildungsroman” para descrever narrativas que exploram o amadurecimento e o crescimento pessoal dos protagonistas ao longo de suas jornadas.

Esses primeiros exemplos de Bildungsroman tendiam a terminar com uma nota feliz, refletindo a crença na realização e no sucesso alcançados após as adversidades enfrentadas. No entanto, ao longo dos séculos XX e XXI, as histórias do gênero passaram a explorar uma gama mais ampla de desfechos, incluindo frustração, resignação e até mesmo morte, refletindo as complexidades e desafios da vida moderna.

Romance de Formação em comparação ao New Adult

Embora o romance de formação e a história New Adult compartilhem o tema central do amadurecimento e da transição para a vida adulta, existem diferenças significativas entre os dois gêneros. O romance de formação, tende a focar no crescimento pessoal e na jornada de autodescoberta de um protagonista desde a infância até a idade adulta.

Por outro lado, as histórias New Adult, embora também abordem questões de transição para a vida adulta, tendem a se concentrar mais em temas contemporâneos e questões específicas enfrentadas por jovens adultos, como relacionamentos amorosos, independência financeira, carreira e sexualidade. Além disso, as histórias New Adult geralmente apresentam personagens mais próximos da faixa etária entre 18 e 30 anos, enquanto o romance de formação pode abranger um período de vida mais amplo.

Em suma, enquanto ambos os gêneros exploram o processo de amadurecimento, o romance de formação tende a ter uma abordagem mais abrangente e introspectiva, enquanto as histórias New Adult são mais focadas nos desafios específicos enfrentados pelos jovens adultos contemporâneos.

Exemplos de Romances de Formação

  • Barba Ensopada de Sangue (2014) de Daniel Galera: A trama segue um professor de educação física que, após a morte do pai, muda-se para Garopaba, uma cidade litorânea no sul do Brasil, em busca de respostas sobre o desaparecimento de seu avô. O romance é introspectivo e explora temas como identidade, memória e solidão, enquanto mergulha nas complexidades das relações familiares.
  • A Tetralogia Napolitana (2011–2014) de Elena Ferrante: A série de quatro livros acompanha a intensa amizade entre Lila e Elena, duas mulheres que crescem juntas em Nápoles. A narrativa explora as dinâmicas de poder, a desigualdade social, e o papel da mulher na sociedade, enquanto tece um retrato detalhado das mudanças políticas e culturais na Itália ao longo das décadas.
  • Mãos de Cavalo (2006) de Daniel Galera: Neste romance, o protagonista, Hermano, busca uma conexão com seu falecido pai ao se aventurar em uma viagem de surfe pelo litoral sul do Brasil. Ao longo da jornada, ele confronta seus próprios medos e inseguranças, explorando temas de identidade, luto e redenção.
  • Grandes Esperanças (1861) de Charles Dickens: A história segue Pip, um órfão empobrecido que recebe uma generosa doação de um benfeitor anônimo. Pip passa de uma condição de pobreza para se tornar um cavalheiro. Ao longo de sua jornada, Pip aprende que as recompensas materiais não devem obscurecer sua consciência e valores internos.
  • As Aventuras de Huckleberry Finn (1884) de Mark Twain: A narrativa acompanha Huck Finn, um adolescente que foge das restrições sociais, e Jim, um escravo fugitivo. Juntos, eles embarcam em uma jornada pelo rio Mississippi em busca de liberdade. O livro explora temas de liberdade, amizade e a luta contra preconceitos sociais.
  • Um Retrato do Artista Quando Jovem (1916), de James Joyce: O romance é um exemplo de Künstlerroman, que retrata o amadurecimento e desenvolvimento de um artista. Stephen Dedalus enfrenta as restrições sociais e religiosas da Irlanda católica enquanto busca sua identidade como artista. O livro explora a rejeição da sociedade e a busca pela autenticidade artística.
  • O Apanhador no Campo de Centeio (1951) de JD Salinger: Narrado por Holden Caulfield, um adolescente recentemente expulso de sua escola interna. Holden enfrenta um fim de semana tumultuado, refletindo sobre sua visão de mundo e seu futuro. O livro trata de temas de alienação, angústia adolescente e a busca por significado na vida.
  • O Sol é Para Todos (1960) de Harper Lee: A história é narrada por Scout, uma jovem que testemunha os eventos ocorridos em sua comunidade sulista. O livro aborda questões de racismo, justiça e moralidade, enquanto Scout amadurece e ganha compreensão do mundo ao seu redor.
  • O Caçador de Pipas (2003) de Khaled Hosseini: Este best-seller segue a amizade entre dois meninos, Amir e Hassan, no Afeganistão. A história aborda temas de redenção, amizade e as consequências de escolhas passadas. Ao longo da narrativa, os personagens enfrentam desafios que os levam à maturidade.

Exemplos de romances New Adult

  • Belo Desastre (2012) de Jamie McGuire: Abby Abernathy entra em um jogo de apostas com Travis Maddox, um lutador de rua. O romance explora temas de amor, amizade e autoconhecimento. Ambientado no ambiente universitário, o livro é conhecido por seus personagens complexos e relacionamentos intensos.
  • Easy (2012) de Tammara Webber: A história segue Jacqueline Wallace, uma estudante universitária que enfrenta um trauma pessoal. Ela encontra apoio em Lucas, um colega de classe misterioso. O livro aborda questões de superação, recomeço e romance.
  • Slammed (2012) de Colleen Hoover: Layken Cohen se apaixona pelo seu vizinho, Will Cooper, mas descobre que ele é seu novo professor. Eles enfrentam desafios pessoais e sociais em sua jornada de amor proibido. O livro combina elementos de romance, drama e superação.
  • Meu Romeu (2015) de Leisa Rayven: Cassie Taylor reencontra seu antigo amor, Ethan Holt, durante uma produção teatral. Eles tentam reconciliar seu passado tumultuado enquanto lutam contra a atração que ainda sentem um pelo outro. O livro é conhecido por sua intensa química entre os personagens principais e suas reviravoltas emocionais.
  • Losing It (2012) de Cora Carmack: Bliss Edwards decide perder sua virgindade antes da formatura e se envolve em situações hilárias e embaraçosas. Ela conhece Garrick, um professor britânico, e os dois se envolvem em um romance proibido. O livro aborda temas de autodescoberta, amadurecimento e romance.

Eu sempre fui apaixonado pelo gênero literário conhecido como romance de formação, onde acompanhamos o crescimento e a evolução emocional e psicológica dos personagens. Inspirado por essa temática, escrevi meu próprio livro, Frágil como Origami, uma obra que explora profundamente essas questões. Nele, seguimos a trajetória de Hena, que ao ser confrontado com a morte e o passado, é forçado a enfrentar seus medos mais íntimos. A história trata de temas universais como solidão, família e a busca por identidade, e convido você a embarcar nessa jornada transformadora ao lado do protagonista. Frágil como Origami está disponível em formato e-book em todas as lojas da Amazon e Kobo, além de sua versão física pela Editora Cordel D´Prata em Portugal.


Em última análise, o romance de formação permanece como uma poderosa expressão da condição humana e da busca pela identidade. Ao mergulharmos nas páginas dessas narrativas, somos convidados a refletir sobre nossas próprias jornadas de crescimento e autodescoberta. Assim, o bildungsroman continua a inspirar e cativar leitores de todas as idades, lembrando-nos da importância fundamental de explorar e compreender nossa própria história de formação.

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