cinco autores que transformaram a literatura lgbtqia no brasil
Dicas de Leitura

5 Autores Que Transformaram a Literatura LGBTQIA+ no Brasil

A história da literatura LGBTQIA+ no Brasil é rica e multifacetada, repleta de autores visionários que desafiaram normas e estereótipos em suas obras. Embora não haja um consenso absoluto sobre quem inaugurou o movimento literário voltado para a diversidade sexual no país, diversas figuras notáveis contribuíram para moldar esse cenário.

Alguns estudiosos apontam para “O Bom-Crioulo” (1895), de Adolfo Caminha, que narra de forma direta o romance inter-racial entre dois marinheiros, como a obra precursora. Outros acreditam que o conto erótico “O Menino do Gouveia,” escrito no início do século XX sob o pseudônimo Capadócio Maluco, desempenhou esse papel. Outros ainda mencionam “Um Homem Gasto” (1885), de Ferreira Leal, como a primeira publicação a explorar essa temática. O Dr. Antonio de Pádua Dias da Silva, em seu artigo “A história da literatura brasileira e a literatura gay: aspectos estéticos e políticos,” defende essa perspectiva.

Autores LGBTQIA+ brasileiros

Neste artigo, exploraremos os perfis e obras de cinco autores de destaque, destacando suas contribuições únicas para a literatura LGBTQIA+ brasileira.

Caio Fernando Abreu

Gaúcho, gay assumido e amigo de Clarice Lispector, Caio lutou contra a ditadura, foi perseguido e exilado na Europa. Ele explorou temas como sexo, morte e solidão em sua obra, que abrange contos, romances, peças de teatro e roteiros de cinema. Seu livro “Morangos Mofados” (1982) é considerado sua obra-prima, e em “Onde Andará Dulce Veiga,” ele trata da homossexualidade de forma mais clara. Caio faleceu em 1996, aos 47 anos, vítima da AIDS.

Mário de Andrade

Pioneiro do modernismo no Brasil, Mário de Andrade foi um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922. Além de músico, dramaturgo e crítico literário, ele teve sucesso com “Macunaíma” (1928). Embora sua orientação sexual tenha sido tema de especulações, somente recentemente, uma carta confidencial revelou suas pressões e a fama que tinha.

Cassandra Rios

Nascida como Odete, Cassandra Rios foi audaciosa para sua época. Ela escreveu cenas amorosas explícitas entre mulheres, destacando o preconceito e a busca por identidade. “A Volúpia do Pecado” (1948) foi seu livro de estreia, mas críticos a consideraram “muito crua”. Outro exemplo é o livro “Eu Sou Uma Lésbica”. Cassandra foi perseguida por censores da ditadura, mas sua obra é essencial para representar o mundo lésbico no Brasil.

Álvares de Azevedo

Autor do clássico de contos “Noite na Taverna” e da antologia poética “Lira dos Vinte Anos,” Álvares de Azevedo era um romântico que explorava temas de amor impossível e morte. Sua vida foi marcada pela tuberculose, e em uma carta de despedida, ele mencionou sua paixão.

Gilberto Freyre

Gilberto Freyre é considerado um dos maiores sociólogos do século XX. Embora tenha escrito “Casa-Grande & Senzala” (1933) para explorar a formação sociocultural brasileira, sua orientação sexual só se tornou um tópico público recentemente. Em entrevista à Playboy, em março de 1980, ele abordou sua sexualidade e incluiu personagens LGBTQ em algumas de suas obras.

Menção Honrosa da Literatura LGBTQIA+

Marcelino Freire

Marcelino Freire é um autor brasileiro cuja obra é marcada pela exploração da vida nas camadas mais marginalizadas da sociedade. Seu livro “Nossos Ossos” (2003) é uma coletânea de contos que aborda questões complexas de identidade, abandono e desigualdade. Os personagens, muitas vezes em situações desafiadoras, revelam a resiliência humana e a luta por dignidade.

Outra obra notável é “Contos Negreiros” (2005), uma coletânea que mergulha profundamente nas histórias de personagens negros, destacando as complexidades do racismo e da discriminação racial no Brasil. O livro recebeu prêmios importantes e estabeleceu Marcelino como um escritor comprometido com questões sociais.

Cristina Judar

Cristina Judar é conhecida por sua escrita audaciosa e vanguardista, que desafia convenções literárias. Seu livro “Oito do Sete” (2010) é um exemplo notável de sua abordagem única. A narrativa explora a vida de uma mulher que decide desaparecer, desencadeando uma jornada por sua identidade e as complexidades das relações humanas.

Outra obra importante de Judar é “Elas marchavam sob o sol” (2012), que apresenta uma narrativa não linear e experimental. O livro desafia as estruturas tradicionais da narrativa e oferece uma exploração profunda da psique humana e da experiência contemporânea.

Carol Bensimon

Carol Bensimon é uma renomada escritora brasileira, conhecida por suas obras literárias que exploram temas contemporâneos e questões de identidade. Seu romance “Sinuca embaixo d’água” (2009) é uma narrativa envolvente que acompanha um jovem que decide fazer uma viagem de bicicleta do sul do Brasil até o Uruguai. A obra explora a busca de autoconhecimento e aventura, além de trazer reflexões sobre a juventude e a passagem para a vida adulta.

Outra obra significativa é “Todos nós adorávamos caubóis” (2013), que segue a história de uma jovem que retorna a Porto Alegre após anos vivendo em Montreal, no Canadá. O livro aborda questões de pertencimento, nostalgia e as complexas dinâmicas familiares.

Carol Bensimon é reconhecida por sua prosa cativante e suas narrativas que exploram a experiência contemporânea, tornando-se uma voz importante na literatura brasileira. Suas obras oferecem insights sobre a vida, a identidade e as interações humanas.


Esses autores LGBTQ brasileiros desafiaram normas e estereótipos, deixando uma marca duradoura na literatura e na cultura do país. Eles contribuíram para uma discussão mais aberta sobre a diversidade sexual e são uma parte importante da rica tapeçaria literária do Brasil.

A literatura LGBTQIA+ no Brasil não é apenas uma narrativa de autoaceitação, mas também uma afirmação da diversidade e da pluralidade de vozes. Autores como Caio Fernando Abreu, Mário de Andrade, Cassandra Rios, Álvares de Azevedo e Gilberto Freyre abriram caminho para discussões mais amplas sobre orientação sexual e identidade de gênero em um país que enfrenta desafios contínuos em relação à aceitação e igualdade.

À medida que a sociedade evolui, a literatura continua a desempenhar um papel crucial na promoção da compreensão e aceitação. Esses autores não apenas enriqueceram o cenário literário, mas também contribuíram para uma narrativa mais inclusiva e representativa do Brasil. Suas obras, muitas vezes ousadas e desafiadoras, ecoam na luta contínua por direitos e igualdade. E à medida que mais vozes LGBTQIA+ emergem na literatura brasileira, o legado desses autores pioneiros continua a inspirar uma nova geração a contar suas próprias histórias autênticas.

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