O Que é um Herói Trágico?

Você já se perguntou o que um herói trágico realmente significa? Se você está procurando um tipo de personagem literário sério, não precisa procurar além do herói trágico. Do teatro grego a Shakespeare e às prequelas de Star Wars, esses infelizes protagonistas povoam algumas das histórias mais memoráveis já contadas. Com isso em mente, vamos explorar as camadas desse tipo de personagem tão complexo.

Qual é um herói trágico?

Na literatura, um herói trágico é um personagem com traços heróicos ou nobres, mas também com uma falha fatal que acaba levando à sua queda. Essa falha pode ser qualquer coisa, desde orgulho ou vaidade até curiosidade excessiva ou ciúme, mas sempre levará à morte do personagem, seja literal ou metafórica.

O herói trágico de Aristóteles

Em sua “Poética”, publicado há mais de 2.000 anos, o antigo filósofo Aristóteles definiu pela primeira vez o conceito de um herói trágico, delineando características compartilhadas por todos os protagonistas das tragédias clássicas.

Aristóteles acreditava que a tragédia, acima de tudo, deveria invocar a catarse do público, permitindo que experimentasse medo, piedade e espanto enquanto assistia ao desenrolar dos infortúnios do herói trágico. Portato, acreditava, purificaria o público de emoções extremas dentro de um ambiente controlado e, por sua vez, daria lugar ao alívio no final.

Não mexa com os deuses eles dirão

A tragédia também foi concebida como uma ferramenta para educar as pessoas sobre as realidades da vida e, em particular, a relação entre os homens e os deuses. Freqüentemente, a queda de um herói trágico era o resultado de desobedecer a um deus ou acreditar que poderiam subverter a vontade dos deuses.

Os grandes trágicos mostraram ao público que uma súbita queda no destino poderia acontecer a qualquer um que desafiasse a vontade dos deuses e outros seres superiores. Ao punir personagens que se elevaram acima de sua posição e ostentaram sua arrogância, a tragédia transmitiu uma lição poderosa sobre o destino humano e a importância de respeitar ao status quo. Afinal, como uma forma de controle social, essas histórias queriam que o homem comum não desafia-se os deuses, mas na verdade, não queriam que desafiassem aqueles que estavam no poder, pois se nem a nobreza podia, quem diria um zé ninguém.

Quais são as características de um herói trágico?

Heróis trágicos não precisam ser reis e princesas da Grécia Antiga. Eles vêm em todas as formas e tamanhos e podem aparecer em qualquer gênero literário. Aqui estão algumas características comumente encontradas em heróis trágicos:

• Eles geralmente são pessoas muito boas.
• Eles não serão perfeitos (esse é o ponto principal), mas heróis trágicos são tipicamente pessoas bem-intencionadas com uma sólida bússola moral. Suas motivações devem ser identificáveis, mesmo que às vezes estejam equivocadas.
• Eles começam sua história indo bem.
• A reversão do destino que vem na trama significa que o personagem tem que começar muito bem. Embora nem sempre sejam o rei literal (a la Édipo), geralmente estão confortáveis e felizes.
• O leitor deve torcer por eles.
• Suas virtudes são claras o suficiente para que o leitor ou público fique do seu lado e sinta simpatia pelo herói quando as coisas começam a se desenrolar. Na verdade, o público tem que torcer por eles para que a tragédia funcione: se eles não gostassem deles, seu final infeliz não seria, bem, trágico!
• Mas eles têm aquela falha fatal…

Há uma variedade de possibilidades para o que essa falha pode ser e neste artigo mostrarei alguns exemplos, mas este é um elemento essencial e não negociável de ser um verdadeiro herói trágico. Aristóteles se referiu a essa falha fatal como:

A queda deles é (meio que) sua própria culpa

Todos os heróis trágicos devem ter uma grande virada, uma reversão repentina da até então boa fortuna do herói. Essas coisas ruins geralmente não acontecem a eles aleatoriamente. Deve ocorrer uma conexão entre suas próprias falhas inatas e os infortúnios que sofrem.

A punição deles nem sempre é justa

Por exemplo, ter todos os males do mundo desencadeados sobre você e entrando na história como a fonte da ruína da humanidade é uma frase muito dura por ser apenas um pouco intrometido, mas foi o que aconteceu com Pandora. Nessas histórias, a punição raramente parece se adequar ao crime, e o leitor fica se perguntando se o herói realmente merecia as consequências impostas a eles, tornando seu destino ainda mais trágico.

Eles se tornam mais autoconscientes ao longo da história

O herói trágico reconhece o erro de seus caminhos, geralmente depois de atingir o fundo do poço como consequência. Esse momento de reconhecimento é uma marca registrada do arco de personagem do herói trágico, referido por Aristóteles como a anagnorisis. Infelizmente, essa autoconsciência geralmente chega um pouco tarde demais.

Eles não têm um final feliz

Um herói trágico, não voltará com flores para casa. Podem ter algum tipo de conclusão satisfatória à medida que experimentam crescimento ou chegam a um acordo com o novo estado de coisas, mas sua queda é irreversível e dolorosa.

Qual é a diferença entre um herói trágico e um anti-herói?

Normalmente, há confusão entre heróis trágicos e anti-heróis. Ambos são arquétipos de personagens interessantes e complexos, no entanto, esses dois termos não são intercambiáveis e denotam tipos de personagens muito diferentes.

Em termos básicos, o anti-herói é alguém que, apesar de ser o herói de uma história, carece claramente de qualidades heróicas. Eles podem fazer coisas boas, mas não necessariamente por bons motivos. Por outro lado, o herói trágico é alguém que geralmente é moralmente justo e heróico, com exceção de sua falha fatal. Suas intenções são geralmente nobres, enquanto as do anti-herói geralmente não são.

Se um anti-herói se parece mais com o que você está procurando, você pode verificar nosso guia definitivo para anti-heróis.

5 Dicas para Escrever um Grande Herói Trágico

Se você está desenvolvendo seus personagens e está interessado em escrever um herói trágico em sua história, aqui estão algumas dicas:

1. Você não tem que seguir a fórmula exatamente:
   Escrever nem sempre é seguir as regras! Por exemplo, se você quiser dar ao seu herói trágico outra reversão do destino de mau para bom, ou fazê-lo perceber que não é o único culpado, vá em frente – subverter a fórmula e surpreender seu público pode ser uma ótima reviravolta na história!
2. Mostre a falha trágica, não a diga:
   Essa dica vale para praticamente qualquer coisa que você escreva. Em vez de dizer a seus leitores que seu herói é teimoso, mostre exemplos deles se comportando dessa maneira. A regra de ouro de “mostre, não diga” tornará sua escrita mais interessante e incentivará seus leitores a fazer o trabalho para descobrir o personagem!
3. Alinhe o arco do seu herói com a estrutura da sua história:
   Se você está planejando incorporar as clássicas batidas da história trágica (por exemplo, estabelecer o status quo, uma reversão do destino, um momento de realização quando o seu herói está em seu ponto mais baixo), certifique-se de pensar cuidadosamente sobre quando será mais eficaz para implantar esses momentos. Se não o fizer, você pode descobrir que o clímax de sua história chega muito cedo ou desmorona. Portanto, pode ajudar a descobrir a estrutura da sua história com antecedência.
4. Construa cuidadosamente a história de fundo do seu herói:
   Dar ao seu personagem uma falha fatal é um bom começo para ter certeza de que eles estão totalmente preenchidos e, portanto, mais memoráveis. Mas não pare aí! Você pode adicionar ainda mais profundidade ao seu personagem, criando uma história de fundo que apóia sua falha, bem como considerando seus outros traços de personalidade. Preencher um perfil de personagem ou questionário de personagem pode ser útil com isso.
5. Não negligencie seu antagonista:
   Só porque você tem um protagonista superinteressante não significa que você pode ter um antagonista chato (a pessoa que se opõe a ele). Na verdade, uma vez que seu protagonista é moralmente cinzento, escrever uma folha para um herói trágico é adequado para antagonistas complexos e interessantes. Quer você inclua um anti-vilão, um amigo que virou inimigo ou qualquer outra variante, se você estiver incluindo um antagonista, certifique-se de dar a eles profundidade suficiente e criar um adversário digno para seu herói trágico.

Exemplos de Heróis Trágicos na Literatura

Já peço perdão por spoilers que possam receber aqui, então pule esta parte se não leu nenhum dos livros abaixo.

Édipo (do “Édipo Rei” de Sófocles):

• Onde eles começam: No início da peça, Édipo é o rei de Tebas, no topo da sociedade.
• A falha fatal: Sua arrogância em acreditar que pode lutar contra seu destino.
• O que deu errado: Ele descobre que involuntariamente casou-se com sua mãe e assassinou seu pai.
• Onde eles acabam: Ele fica louco com a revelação e se cega.

Emma Bovary (de “Madame Bovary” de Gustave Flaubert):

• Onde eles começam: Casada com um jovem bem-intencionado, embora um tanto ingênuo.
• A falha fatal: Seu desejo por romance e luxo.
• O que deu errado: Buscando emoção em casos de amor e um estilo de vida extravagante, ela acaba em dívidas.
• Onde eles acabam: Em um acesso de desespero, ela termina sua própria vida.

Eddard Stark (de “A Game of Thrones” de George RR Martin):

• Onde eles começam: Senhor de Winterfell, amigo leal do rei e marido e pai amoroso.
• A falha fatal: Sua obsessão com a honra e o fracasso em se adaptar.
• O que deu errado: Sua recusa em desistir de seus princípios o leva à execução após confrontar a esposa do rei.
• Onde eles acabam: Executado após a morte do rei, deixando-o sem proteção contra seus inimigos.

Elena Richardson (de “Little Fires Everywhere” de Celeste Ng):

• Onde eles começam: Com uma vida perfeita: rica, bem-sucedida e organizada.
• A falha fatal: Seu desejo de manter o status quo.
• O que deu errado: Consumida pelo ciúme, ela se torna sombria, afastando seus filhos e enfrentando suspeitas e chantagens.
• Onde eles acabam: Sua filha incendeia a casa da família e foge, realizando seu pior medo.

Esses exemplos ilustram como os heróis trágicos enfrentam suas próprias falhas e circunstâncias, muitas vezes levando a um destino sombrio. Se você está interessado em explorar mais sobre como escrever tragédias, você pode consultar nosso guia da pirâmide de Freytag, uma estrutura dramática projetada com a tragédia em mente!