O Daruma
Era uma tarde nublada quando me deparei com o Daruma pela primeira vez. Na vitrine de uma loja japonesa, aquele bonequinho vermelho e rechonchudo, com os olhos estranhamente incompletos, parecia me observar com uma sabedoria antiga. Curioso como sou, entrei para perguntar o que era aquilo. A dona da loja, uma senhora simpática com sorriso enigmático, explicou:
— É um Daruma. Você pinta um dos olhos quando faz um desejo. Se o desejo se realizar, pinta o outro olho para agradecer.
Simples, não? Uma espécie de contrato com o universo. Mas aí vem o plot twist: e se o desejo não se realizar? A senhora sorriu de novo e disse:
— Talvez você não tenha pintado o olho direito…
Saí da loja com meu Daruma debaixo do braço e uma tonelada de dúvidas.
O que é um Daruma, afinal?
Daruma é uma figura inspirada no monge budista Bodhidharma, famoso por sua determinação e resistência (ele teria meditado por nove anos sem piscar, o que explicaria os olhos arregalados do boneco). Tradicionalmente, ele simboliza perseverança e boa sorte. Por isso, o ritual: fazer um pedido e, com paciência e trabalho duro, alcançar o que se deseja.
Claro, a cultura pop transformou o Daruma num misto de coach motivacional e amuleto de sorte. Hoje, ele é popular no Japão e além, como se fosse um influenciador espiritual dizendo: “Você consegue!”, mas em silêncio.
O Destino Está nos Olhos de Quem Pinta
Naquela noite, em casa, posicionei meu Daruma na estante. Fiz um desejo — não muito ambicioso, algo na linha “espero que minha planta não morra este mês” — e pintei um olho.
Dias passaram, e nada do desejo se realizar. A planta, uma pobre samambaia já amarelada, parecia estar pedindo arrego. Olhei para o Daruma com certa impaciência, como quem diz: “Ei, não era você quem ia resolver isso?”
Então me peguei pensando: e se o destino não tem nada a ver com isso? E se o universo está ocupado demais para cuidar de uma samambaia em crise? Talvez o Daruma seja mais sobre o esforço do que sobre a magia. Afinal, quem estava regando a planta era eu, e com uma certa falta de método, diga-se de passagem.
Conspiração Cósmica ou Coincidência?
Um mês depois, a planta estava milagrosamente viva. Não vou mentir, fiquei dividido. Foi o Daruma que deu uma palavrinha com os astros ou fui eu que finalmente aprendi a dosar a água? Pintei o outro olho, porque, convenhamos, melhor prevenir do que remediar. Se foi o cosmos que ajudou, ótimo; se não, pelo menos o boneco ficou mais simpático com os dois olhos preenchidos.
A verdade é que o Daruma me ensinou uma lição valiosa: não importa se o desejo foi realizado pelo universo, pelo esforço ou por pura sorte. O que vale é ter um empurrãozinho — nem que seja de um boneco vermelho com olhos inquietantes.
E, no fundo, pintar os olhos do Daruma é como assinar um contrato com você mesmo. Um pacto de tentar, de acreditar, e de se permitir rir quando as coisas dão certo… ou errado. Afinal, no jogo do destino, um pouco de superstição nunca fez mal a ninguém.