Rotina de Escrita: os hábitos de escrita de 13 escritores famosos e como se mantinham motivados
Tenho um grande apreço pela escrita. Na verdade, recentemente descobri que é a atividade que mais me encanta. Apesar de encontrar uma profunda satisfação nos minutos que dedico a essa prática, encontro dificuldades em estabelecer e manter uma rotina diária que não apenas permita, mas também me motive a escrever todos os dias.
Compreendi que para aprimorar minha escrita, havia apenas quatro caminhos conhecidos: ler, escrever, ler mais e escrever mais. Era evidente que precisava especialmente me aperfeiçoar na parte da escrita. Com essa intenção, lancei mão do Google e encontrei um recurso que trazia tudo o que eu buscava em um único lugar.
Esse recurso foi inspirado por uma carta escrita por Kurt Vonnegut para sua esposa, que descrevia sua rotina diária. Maria Popova, buscando mais sobre os horários e hábitos de escritores famosos, compilou entrevistas e diários. Ela reuniu tudo o que conseguiu encontrar em seu site, o Brainpickings, e traduzi, de maneira livre, os relatos abaixo, juntamente com uma breve introdução e comentário ao final.
Ray Bradbury
Ray Bradbury, autor de “O Zen e a Arte da Escrita”, tinha uma abordagem muito apaixonada em relação à escrita. Ele não era limitado por horários rígidos e cronogramas. Ele afirmou que sua paixão o conduzia à máquina de escrever todos os dias de sua vida, desde os 12 anos. Bradbury acreditava que algo novo sempre explodia dentro dele, e essa inspiração o direcionava para a escrita. Ray podia escrever em qualquer lugar, mesmo em meio a ruídos e conversas em sua casa. No entanto, ao escrever “Fahrenheit 451”, ele buscou um local mais calmo e reservado.
Joan Didion
Joan Didion tinha uma rotina que incluía uma hora sozinha antes do jantar, com uma bebida, para revisar seu trabalho do dia. Ela não fazia isso no final da tarde, pois ainda estava muito envolvida com seu trabalho. Essa revisão a ajudava a remover partes desnecessárias e adicionar novas. Ela também mencionou que, quando estava perto do final de um livro, precisava dormir no mesmo quarto que ele, acreditando que isso contribuía para sua conexão com o trabalho.
E. B. White
E. B. White não ouvia música enquanto escrevia e conseguia trabalhar razoavelmente bem com distrações usuais. Ele frequentemente escrevia em sua sala de estar, apesar do movimento e do barulho ao seu redor. Ele não esperava por condições ideais para trabalhar, pois acreditava que o escritor que espera por essas condições nunca colocará uma palavra no papel.
Susan Sontag
Susan Sontag tinha uma abordagem variada para sua rotina de escrita. Ela estabelecia regras para si mesma, como acordar cedo e almoçar apenas com uma pessoa específica. Ela também escrevia em um caderno de anotações e revisava seu trabalho várias vezes, tanto à mão quanto no computador. Ela escrevia em jorros, quando sentia que algo amadureceu em sua mente e precisava ser escrito. Ela não era muito prolífica, mas estava profundamente interessada em várias coisas.
Henry Miller
Henry Miller tinha uma rotina detalhada com horários específicos para diferentes partes do dia. Pela manhã, ele escrevia se estivesse inseguro ou revisava suas anotações. À tarde, trabalhava à mão seguindo um plano rigorosamente. À noite, se envolvia em atividades sociais, leitura e outras explorações. Ele acreditava que cortar distrações como filmes e fazer rascunhos em lugares como cafés e trens eram parte importante de sua rotina.
Simone de Beauvoir
Simone de Beauvoir tinha uma abordagem peculiar. Ela começava o trabalho por volta das 10h da manhã, após tomar chá. Trabalhava até o almoço e, após interações sociais à tarde, voltava ao trabalho das 17h às 21h. Ela também mencionou que relia o que havia escrito no dia anterior para recuperar o fio da meada. Ela valorizava a rotina e o prazer de trabalhar.
Ernest Hemingway
Ernest Hemingway tinha uma rotina matinal intensa. Ele escrevia todas as manhãs, logo após o amanhecer, quando estava fresco e quieto. Ele escrevia até chegar a um ponto onde ainda sabia o que aconteceria a seguir, mas interrompia intencionalmente para continuar no dia seguinte. Acreditava que terminar o dia no meio de uma ação facilitava a retomada no dia seguinte. Para ele, a espera até o próximo dia era a parte mais difícil.
Don DeLillo
Don DeLillo tinha uma rotina de escrita que incorporava atividades físicas e momentos de criação. Ele começava o dia trabalhando em uma máquina de escrever manual por aproximadamente quatro horas. Após essa sessão, ele saía para correr, permitindo-se entrar em um “outro mundo”. A natureza, as árvores, os pássaros e até a garoa contribuíam para um intervalo necessário. Em seguida, à tarde, Don DeLillo voltava ao trabalho de escrita por mais duas ou três horas. O esporte não apenas proporcionava um intervalo refrescante, mas também clareava suas ideias, permitindo-lhe encontrar uma nova perspectiva e renovar sua criatividade. Ele mencionava que encontrar um equilíbrio entre momentos de escrita focada e momentos de afastamento era crucial em sua rotina.
Haruki Murakami
Haruki Murakami tinha uma rotina matinal muito estruturada para otimizar sua escrita. Quando estava no “modo escrita” para um romance, ele acordava às 4:00 da manhã. Durante as próximas cinco ou seis horas, ele se dedicava ao seu trabalho criativo. À tarde, Murakami praticava exercícios físicos, como correr 10 km ou nadar 1500 m, muitas vezes fazendo ambos. Depois do exercício, ele se entregava à leitura e à música. A noite chegava cedo para Murakami, pois ele ia para a cama às 9:00 pm. Ele enfatizava a importância da repetição em sua rotina, alegando que essa regularidade o ajudava a alcançar um estado mental mais profundo e produtivo.
William Gibson
William Gibson tinha uma abordagem flexível para a escrita, focando em adaptar-se às necessidades do processo criativo. Ele iniciava suas manhãs por volta das 7:00, realizando atividades como verificar e-mails e realizar “abluções” na Internet. Em seguida, ele trabalhava em sua escrita, embora admitisse que, se nada estivesse fluindo, ele poderia se permitir uma pausa para cortar a grama. Gibson também dedicava tempo a atividades físicas, como aulas de pilates, e mantinha um intervalo para o almoço. À medida que se aproximava do final de um livro, sua rotina intensificava, com ele trabalhando até doze horas por dia para atender às demandas complexas da composição.
Maya Angelou
Maya Angelou dividia seu dia entre a escrita e momentos de relaxamento. Pela manhã, ela se dedicava à escrita de suas obras. Em seguida, por volta do meio-dia, ela fazia uma pausa para tomar banho e se refrescar após o trabalho árduo da escrita. Durante a tarde, Angelou saía para realizar tarefas e apreciar a vida cotidiana, procurando se afastar do trabalho e fingir ser “normal”. À noite, ela revisitava o que havia escrito durante a manhã, escolhendo cuidadosamente o que considerava aceitável e merecedor de continuação.
Anaïs Nin
Anaïs Nin tinha uma abordagem consistente em relação à sua rotina de escrita. Em 1941, ela escrevia suas histórias de manhã, dedicando-se à criatividade nos primeiros momentos do dia. À noite, ela reservava um tempo para manter um diário, registrando seus pensamentos e experiências mais recentes. Em 1948, ela reiterou a importância de escrever todos os dias, enfatizando que suas manhãs eram o período em que produzia seu melhor trabalho.
Kurt Vonnegut
Kurt Vonnegut tinha uma rotina única e humorística que refletia sua personalidade excêntrica. Ele acordava às 5:30 da manhã e trabalhava até as 8:00. Após o trabalho da manhã, ele realizava atividades físicas, como nadar na piscina. À noite, ele relaxava com shots de uísque e preparava o jantar. Sua noite incluía leitura, música jazz e, finalmente, ele ia para a cama às 10:00. Vonnegut admitia a importância de se permitir momentos de prazer e, ao mesmo tempo, manter uma rotina de escrita produtiva.
Em suma, essas diferentes abordagens ilustram que não existe uma fórmula única para a rotina de escrita. Cada autor encontrou maneiras diferentes de integrar a escrita em suas vidas, adaptando-se às suas personalidades e necessidades criativas. Independentemente do método escolhido, a consistência e o compromisso com a prática da escrita foram fundamentais para o sucesso de cada um.