Resenha: Corpo em Silêncio, de Martina Salvo de Oliveira
Ler Corpo em Silêncio, de Martina Salvo de Oliveira, é uma experiência necessária. Sem descrições explícitas, mas com muita inocência e um olhar de criança, o livro utiliza brincadeiras e fantasias para contar uma história complexa.
A protagonista, uma menina, começa a obra relatando aos poucos a sua vida, que inclui uma mudança de país para o Chile, onde mora o seu pai, um relacionamento familiar difícil, e a sua relação com os amigos da escola, sua avó e a sua melhor amiga.
No entanto, o aparente começa a se revelar com uma calma tensa que gradualmente da conta de uma realidade criminal: essa menina de 9 anos está sendo vítima de violência sexual.
O silêncio se respira nas coisas que não são ditas, mas que, mesmo assim se manifestam como fantasia, por exemplo, na forma do bicho-papão que a espera escondido.
A história de estupro é contada num contexto de um Brasil machista dos anos 90, onde o prefeito de São Paulo se sente confortável dizendo: “Tá bom, tá com vontade sexual, estupra, mas não mata”, e num Santiago do Chile reprimido, que começa a viver em democracia após a ditadura de Augusto Pinochet.
“Corpo em silêncio” tem como eixo central o tema da violência sexual infantil, mas vai além. Também aborda as dificuldades dos relacionamentos familiares e a invisibilização de crianças que, apesar de terem famílias presentes, sofrem com a ausência emocional.
O livro também fala de imigração, adaptação a outras culturas e línguas, bullying na escola, puberdade, amor, amizade, irmandade, e tantas outras questões.
Também vai lentamente, dando voz a essa menina convertida em adolescente e depois em mulher, que descobre as dores e fantasmas escondem algo real, até encontrar a força necessária para gritar: o estuprador é você.
“Corpo em silêncio”, um livro autoficcional, é o primeiro romance de Martina Salvo, mas se apresenta como uma obra madura, uma narrativa lírica e bela. Apesar das situações duríssimas que narra, a autora consegue enganchar de forma sensível e cuidadosa desde a primeira página, até o lapidário final.
Acredito que a fortaleza do texto é justamente o tempo que demorou para ser escrita. Como disse a autora numa entrevista: é uma história que tomou 30 anos para poder ser contada. Um livro corajoso e enorme.
Para adquirir o livro Corpo em Silêncio, acesse a página da Editora Mondru.
Sinopse:
“Corpo em silêncio” narra a viagem emocional de uma menina presa entre duas realidades, uma aparente onde tudo está bem, e uma real onde está quebrada. Criada entre o Brasil e o Chile, com uma viagem e mudança de vida que chega de repente, ela é assombrada por memórias sombrias e lembranças ocultas em sua mente, que tenta desvendar para descobrir a verdade por trás de sua dor.
Acompanhada por um diário, que se torna seu confidente, a protagonista gradualmente libera sua voz de um sussurro para um grito poderoso: “o estuprador é você!”.
Este livro se pode ler como uma novela, como uma denúncia, ou como memórias, porque é tudo isso. É a história de uma menina pequena, vitima de violência sexual por um vizinho, pai de família, homem trabalhador e de igreja.
Em primeira pessoa, a menina e depois a mulher, conta o que tantas a tantos sentem vergonha de falar, escreve pelas pessoas que não podem, e mostra o que muitos não querem ver.
Sua jornada emociona e aumenta a conscientização sobre a violência sexual infantil, a invisibilidade da voz das crianças, a superação de traumas, e a grande importância da cura.