Tropos literários: como usá-los em sua escrita
A fascinante palavra “tropo” desdobra-se em dois significados intrincados, caracterizando-se geralmente como um fenômeno no qual elementos são habilmente repetidos para tecer um tema ou ideia comum. O Oxford Learners Dictionary esclarece o tropo como “um tema importante ou repetido na literatura, filmes, etc.”, marcando o ponto de partida de nossa jornada na compreensão dessa rica expressão artística.
O Que é um Tropo?
A princípio, o tropo revela-se como um tema recorrente na linguagem figurativa da escrita, desempenhando um papel crucial na construção da narrativa. Não somente, mas transcende os limites do mero recurso literário, moldando as fundações das histórias que cativam e intrigam seus leitores.
Exemplos de Tropos
- O Tropo da Garota Especial
Este intrigante narrativa, frequentemente vislumbrado em filmes e ficção para young adult, isola uma garota, elevando-a à condição de excepcional. Exemplos como Cady Heron “Meninas Malvadas” (2004) e Anastasia de “Cinquenta Tons de Cinza” (2015). - O Tropo Manic Pixie Dream Girl (em tradução livre: “garota maníaca fada dos sonhos”)
Kirsten Dunst em Elizabethtown, descreve GMFS como ”aquela criatura cinematográfica cintilante e superficial que só existe na imaginação febril dos escritores”. Clementine de “O Despertar da Mente” (2004) e “Elizabethtown” (2005) personificam esse enredo. - O Tropo do Lixo Branco
Imerso em representações muitas vezes distorcidas, o tropo do Lixo Branco retrata homens e mulheres de baixa renda como contraponto aos personagens da classe alta. Narrativas como “Trailer Park Boys” (2001-2018), “Mississipi em chamas” (1988) e “Projeto Flórida” (2014) exploram esse complexo. - O Tropo da Garota Legal
Esta é uma fusão de características masculinas e femininas, participa de atividades com os rapazes e atrai pela sua feminilidade única. Exemplos em filmes como “Um Brinde à Amizade” (2013), “Quem Vai Ficar com Mary?” (1998) e “Os Vingadores” (2012) ilustram bem o estilo - O Tropo da Garota Inteligente
Personificando a inteligência, autoconfiança e, por vezes, a solidão, que desafia as narrativas convencionais. Personagens como Hermione Granger em “Harry Potter”, Nancy Drew em “Nancy Drew”, e produções como “A Bela e a Fera” (1991) e “One Tree Hill” (2003-2012) dão vida a esse universo. - O Tropo O Amigo Gay Dispensável
Abordando questões delicadas, de estilo homofóbico encontra espaço em narrativas que, injustamente, eliminam personagens LGBTQ antes de seus pares heterossexuais. Filmes como “Com Amor, Simon” (2013), “Nunca Fui Santa” (1999) e “Boys Don’t Cry” (1999) infelizmente perpetuam esse tropo prejudicial.
Os 3 Tipos de Tropos
O renomado escritor Christopher Dean destaca a importância dos tropos como atalhos para explicar conceitos complexos. Entre os três tipos fundamentais estão:
- Ironia
Este manifesta-se de diversas formas, como verbal, dramática e situacional, proporcionando um toque sutil e reflexivo à narrativa. - Metáfora
Uma expressão figurativa que estabelece conexões indiretas entre elementos, oferecendo uma riqueza simbólica à linguagem. - Eufemismo
Utilizado para suavizar ideias difíceis por meio de uma escolha cuidadosa de palavras, o eufemismo é um instrumento literário que permite uma comunicação mais gentil e palatável.
Tropos em Romances
A despeito do tropo ter adquirido uma conotação desfavorável atualmente, é imperativo que os leitores compreendam sua existência ao longo das eras. Por sua vez, longe de serem fenômenos recentes, remontam há tempos imemoriais, constituindo-se como elementos fundamentais na tessitura das narrativas ao longo da história. Essas recorrentes expressões artísticas proporcionam aos leitores uma sensação de familiaridade, conectando-os a arquétipos e situações que transcendem fronteiras culturais e temporais. Contudo, é inegável que a utilização excessiva desses dispositivos de narrativa tem sido alvo de críticas acaloradas, levantando questionamentos sobre a originalidade e inovação na construção de histórias. Nesse contexto, a capacidade de equilibrar a tradição com uma abordagem inovadora emerge como um desafio crucial para escritores contemporâneos, que buscam proporcionar experiências literárias enriquecedoras e, ao mesmo tempo, evitar a estagnação que pode advir do uso desmedido desses elementos narrativos.
Clichê vs. Tropo
Apesar de serem comumente empregados de maneira intercambiável, é essencial reconhecer a distinção marcante entre clichês e tropos. Enquanto os tropos desempenham o papel de arquétipos e situam-se como elementos recorrentes em narrativas, representando situações comuns que transcendem contextos específicos, os clichês apresentam-se como fórmulas previsíveis e desgastadas que devem ser propositadamente evitadas a todo custo. Enquanto os tropos oferecem uma base sólida para construir histórias familiares e universalmente compreendidas, os clichês, ao contrário, podem prejudicar a originalidade e a autenticidade de uma narrativa, limitando sua capacidade de cativar e surpreender os leitores. Assim, a diferenciação clara entre esses dois conceitos torna-se imperativa para escritores que buscam criar narrativas envolventes e genuinamente inovadoras.
Tropos Comuns em Romances
- Triângulo Amoroso
Uma narrativa frequentemente explorada, exemplificada em obras como “Jogos Vorazes” e “Talvez Um Dia” de Colleen Hoover. - Inimigos dos Amantes (Enemies To Lovers)
A transição de inimigos para amantes é um envolvente, presente em obras como “Vermelho, Branco e Azul Royal” e “O Príncipe Cruel” de Holly Black. - Amor Proibido
O amor impossível, personificado por Romeu e Julieta, continua a intrigar leitores. - Bilionário Secreto
A trama do bilionário que oculta sua riqueza, como visto em “Two and a Half Men” e “A seleção” de Kiera Cass. - Donzela em Perigo
O clássico enredo da garota vulnerável, representado vividamente por Bella em “Crepúsculo” e até mesmo na série de vídeo games do Marios Bros, com a personagem Peach. - Anti-Herói
Desafiando normas heroicas, personagens como “Fantasma da Ópera” e “Laranja Mecânica” agregam complexidade às narrativas. - O Lorde das Trevas
O arquétipo do vilão que busca dominar o mundo e universo, personificado por Thanos no universo Marvel e Voldmort em Harry Potter.
Em resumo, os tropos se revelam como ferramentas essenciais na construção narrativa, proporcionando familiaridade aos leitores e contribuindo para a riqueza das histórias. Embora sua utilização excessiva mereça cautela, a habilidade de emprega-los com sensibilidade e inovação é a chave para manter a frescura e o apelo único das narrativas literárias ao longo do tempo. O desafio reside em encontrar o equilíbrio entre a tradição e a originalidade, evitando os clichês que obscureçam a beleza intrínseca dos temas em toda sua diversidade e complexidade.