matar um personagem e a melhor escolha para sua historia
Como Escrever Um Livro

Matar um Personagem é a Melhor Escolha Para Sua História?

Quando e como definir quando matar um personagem pode fazer o impacto necessário, ou ainda, arruinar o seu livro. Além disso, é incrível como muitos autores conseguem fazer isso sem piscar e outros ficam num impasse, entre escrever a cena ou não.

Agora, quando aplicado de maneira correta, encerrar a jornada de um personagem pode partir o coração do seu leitor, mas quando feito de forma errada, acaba por frustrar até o mais paciente deles.

Neste artigo, vou trazer um pouco mais da minha experiência como autor, desmitificando a morte de um personagem e apresentando considerações para você eliminar até o favorito dos seus personagens.

Quando matar um personagem?

Pergunta instigante, talvez confusa, porque a maneira como é feita está mais na forma do que na função da escrita. Por sua vez, devemos considerar por que você deveria matar um personagem, não é mesmo?

De início, primeiro vamos analisar alguns motivos pelos quais essa escolha deve funcionar, veja abaixo:

Pelo impacto emocional

Dos muitos motivos, o que mais adoro é causar impacto emocional e deixar o leitor sem chão.

Onde eliminar um personagem dentro da narrativa dependerá do proposito que você dará para sua morte. Além disso, não há momento certo ou errado, pois se o seu objetivo é criar uma reação emocional, no mínimo o leitor precisa conhecer o personagem primeiro. Por outro lado, se o objetivo é estabelecer sensação de perigo, o personagem pode morrer logo de início.

Chegado momento em que o proposito da morte é estabelecido, o impacto deve ser visceral. Por exemplo, em Game of Thrones, logo no primeiro livro temos duas mortes de personagens importantes(primeiros de muitos outros), que impõem uma virada inesperada em todo o enredo. Por sua vez, em True Blood, também na primeira temporada ocorre a morte de uma personagem que quebra o coração de qualquer um.

Praticamente, qualquer proposito pode ser validado e escrito da melhor maneira possível, desde que estabeleça uma regra simples:

Escreva a morte para o personagem, não o personagem para sua morte

Ninguém vai se emocionar quando fica claro que o personagem apenas foi escrito para morrer. Não somente, mas o autor deve saber sim o futuro do seu personagem, mas seu leitor não pode descobrir, correndo o risco de nunca investir neles e quando o momento chegar, não criar qualquer laço de emoção.

Se um personagem vai morrer, precisa ser único e bem esquematizado. Em suma, uma boa regra prática é que o fato de escrever seja tão ruim para você autor, quanto para o seu leitor.

As melhores mortes de personagens são de partir o coração para o autor e para o leitor.

Caso seu personagem esteja indo em direção a própria morte, é essencial direcioná-lo com maestria, para que seu final seja digno e genuíno. Depois desse ponto, a pergunta que não quer calar, “quando devo matar um personagem?” pode ser respondida pelo propósito e o momento pelo qual deverá ter o maior impacto.

Agora, você tem o propósito em mãos, mas como executar?

Como matar um personagem sem medo?

Com o proposito em mãos, o modo como você mata um personagem é fortemente ligado a duração e a maneira pela qual você está escrevendo. Entretanto, mortes longas podem ser entediantes ou angustiantes, mas as breves e súbitas costumam desempenhar melhor seu papel.

Nem sempre você vai contar uma história com uma morte rápida. Por exemplo, em A Culpa É das Estrelas, sabemos que Hazel está morrendo, todo o enredo gira em torno desse momento, mas apenas para as pessoas que leram, sabe como a morte neste livro tem um impacto profundo em nossos corações.

No final, não há regras simples, mas podemos aprofundar ainda mais nas discussão e é o que veremos em seguida.

Weltschmerz

De origem alemã, ‘weltschmerz’ é a tristeza causada pela comparação do mundo como realmente é com como achamos que deveria ser.

O impacto da morte de um personagem deve ter a capacidade de fazer o leitor imaginar como seriam as coisas se eles estivessem vivos. Portanto, essa é a razão pela qual personagens que foram criados apenas para morrer, terão pouco ou nenhum impacto para o leitor.

Cada leitor é uma pessoa esperta, eles entendem se você está manipulando o enredo, por isso perceba como a mecânica da sua escrita interfere na narrativa do personagem e não entregue sem querer que o personagem já estava morto o tempo todo. Lembra do filme, O Sexto Sentido? Então!

Por outro lado, quando o leitor sente a sensação de perda, deve ter uma noção real em seu subconsciente do que perdeu. Agora, tudo que era esperado do personagem, seus relacionamentos e seus desejos, são levados pelo vento.

Quando o leitor voltar à realidade, será forçado a enfrentar junto com os outros personagens aquele sensação de: “E se ele estivesse vivo, como as coisas poderiam ser diferentes?

Matar um personagem gera discursos

Lembrar sua memória e discursar sobre a vida de alguém que perdemos é algo comum. Com isso, não quero dizer que precisa de um capítulo inteiro para escrever essa cena, mas tenha em mente, que esse personagem eram importantes para alguém e essa pessoa estará pensando neles e provavelmente precisará de alguém para conversar.

É claro que a homenagem não precisa acontecer depois da morte, ela só precisa fazer referência à perda. Os leitores são espertos o suficiente para pensar na dor dos outros personagens, mesmo que você precise mostrar que os outros estão sem tempo para o luto, por qualquer motivo que for, mas por dentro estão completamente abalados.

A jornada do herói costuma ser uma ferramenta narrativa que utiliza bastante do luto, seja por alguém ou por alguma coisa, como meio de transformação. Por sua vez, dependendo da importância do personagem, tudo muda muito bruscamente.

Morto feat enterrado

A morte de um personagem é uma jogada imprevisível e, quando menos consideramos sua execução, a probabilidade de o leitor se frustrar somente cresce. Além disso, a chave para criar esse acontecimento é convencer o leitor da sua perda e, por mais chato que seja, que é impossível fugir disso.

Quando escrevemos, perder um personagem que amamos é um ato de coragem. Não somente, mas é perturbador condenar aqueles que passamos um bom tempo criando e modelando, pois em muitos dos casos não queremos deixá-los ir embora. Neste momento, tenha certeza que se é doloroso para você como autor, o sacrifício levará sua história para o leitor como um soco no estomago.


No final, não há poço de Lázaros para trazer aqueles de volta. Em resumo, trate de criar uma boa conexão com o seu leitor, pois aqueles personagens fadados ao acaso não sabem quando o momento está chegando. Então, deixe que a surpresa tenha o impacto necessário e destrua o emocional do seu leitor.

E você, costuma lutar para manter seus personagens vivos, ou não é misericordioso? Quais mortes de personagens mais de abalaram? Me conte nos comentários.

Raphael T. A. Santos é apaixonado por SciFY e literatura, tendo estado presente nas primeiras edições das antologias do Grupo Editorial Andross, com 6 contos, possuindo também uma publicação na antologia Rupturas, produzido no âmbito do Curso de Introdução à Escrita Criativa, coordenado pelo autor Tiago Novaes e, de forma independente, o conto de terror cósmico, Umidade, e atualmente escreve suas crônicas, tópicos de escrita criativa, carreira literária e marketing no site Escrita Selvagem. Publicou o seu primeiro livro de romance, Mãe de Sal, em 2021. Frágil como Origami é o seu segundo livro.

5 Comentários

  • Maria Poliana Pereira

    Bom ! Eu escrevo uma história bem interessante, onde tem esse personagem que quero matar ele ,mas pior que ele se tornou muito interessante… ele é irmão do personagem principal , um médico bem sucedido e ótimo , salva muitas vidas , já teve um acidente onde perdeu a memória e se recumperou bem … agora bescobriu mesmo oque e o amor de verdade , mas aí que tá , esse amor não pode ir pra frente porque é impossível, a menina terá que fica com o outro ! Estou muito confusa como vou fazer ! Mas a morte dele fazeria a história mudar completamente! Não sei oque fazer …

  • G.R. Monteiro

    Eu não costumo ter pena de matar personagem não, se necessário eu vou lá e “vrau”. Meu problema é que as vezes realmente eu crio pessoas na trama só para morrerem (geralmente no começo, o que acho que justifica), queria realmente é criar alguém que gerasse sentimento no leitor, seja ódio ou empatia, para que depois ele sinta algo, como alívio ou desespero, não frustração. Obrigado pelo post.

    • Silvana Ramos Martins

      Olá!
      Estava a procurar por outro assunto, quando cheguei aqui. E lendo a sua postagem, me deparei com algo interessante.
      Quando escrevo, não sigo um roteiro. Não sei quem viverá ou morrerá. Simplesmente acontece. Não me preocupo com o que os leitores irão pensar ou sentir. A história tem vida própria e tudo o que faço, é transcrevê-la.
      O que eu buscava saber, de algum outro escritor, é se vocês sofrem muito, quando o personagem morre. Eu quase morro chorando. Vivo um verdadeiro luto. E isso está me preocupando.
      Se puder me responder, agradeço!

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